CASO
CLÍNICO (35)
A
Sra. Martins é catarinense e tem 50 anos.
Problema.
Quando ficou convencida de que não tinha mais
estômago, a Sra. Martins parou de comer e de beber.
Ela foi trazida de ambulância ao setor de emergência
do hospital da cidade. Seu médico de família
relatou que ela tinha comido e bebido quase nada nas
últimas semanas, porque parecia não achar
necessário.
O transtorno
da Sra. Martins tinha começado um mês antes,
quando ela se tornou deprimida sem qualquer causa óbvia.
Ela perdeu o interesse por tudo, não dormia mais
do que uma ou duas horas por noite, perdeu o apetite
e sentia-se incapaz de fazer qualquer coisa. Consultara
seu médico de família quando isso aconteceu,
que prescreveu um antidepressivo tricíclico.
Embora ele tivesse aumentado progressivamente a dosagem
para 200mg, a Sra. Martins não sentira qualquer
alívio.
História.
A Sra. Martins foi criada em uma cidade onde seus pais
tinham um pequeno negócio. Suas notas na escola
eram satisfatórias, exceto em Matemática,
que ela simplesmente achava muito difícil de
acompanhar. Ela fez treinamento como cabeleireira e
empregou-se em um salão de beleza, onde ficou
por mais de 10 anos. Seu marido também era cabeleireiro
e o casal decidiu tornar-se independente logo após
o casamento. Eles abriram seu próprio salão
e na época de seu atual problema eles estavam
indo muito bem. Tinham uma filha que trabalhava como
recepcionista em um hotel local. A Sra. Martins nunca
tinha estado em um hospital antes, e costumava dizer
a suas clientes que não tinha tempo para ficar
doente.
Os pais
da Sra. Martins estavam próximos dos 80 anos
e ainda eram bastante saudáveis para a idade.
Ela tinha um irmão e duas irmãs. Uma de
suas irmãs tinha sido hospitalizada várias
vezes, com um diagnóstico de depressão
grave, tendo tomado três lítio regularmente
por três anos.
Tanto
a Sra. Martins quanto seu marido gostavam de um ocasional
copo de vinho tinto, mas ambos eram terminantemente
contra tabaco ou outras substâncias psicoativas.
O Sr. Martins descrevia sua esposa como uma mulher extrovertida,
sociável e perfeitamente normal, que gostava
de rir e de se divertir. Ele estava completamente desnorteado
pela forma como ela tinha se comportado durante o último
mês.
Achados.
Na internação, a Sra. Martins estava orientada
em relação a tempo, lugar e pessoa. Ela
sentou-se imóvel, quase inexpressiva, olhando
fixo para o espaço. Admitiu sentir-se deprimida
e disse que queria morrer. Ela afirmou que era amaldiçoada
e que logo estaria no inferno, que não tinha
mais estômago, que seu coração tinha
parado de bater e que seus intestinos estavam apodrecendo.
Seu corpo inteiro estava rapidamente se deteriorando
e já cheirava a putrefação, dizia.
Recusava-se absolutamente a comer ou beber qualquer
coisa. Ela se deixou levar para o quarto e foi colocada
na cama, lá esperando pela morte.
Após
dois dias de reidratação, o quadro clínico
da Sra. Martins estava controlado. Entretanto, ela tinha
se tornado completamente muda e jazia imóvel
sobre a cama, com os olhos fixos no teto.
O exame
físico não revelou qualquer anormalidade.
Exceto pelas anormalidades iniciais causadas pela desidratação,
os testes sangüíneos, incluindo função
tireoidiana, estavam dentro dos limites normais, assim
como todas as outras investigações especiais.
Curso.
A Sra. Martins foi tratada com TEC, e sua condição
melhorou dramaticamente. Após a segunda aplicação,
começou a falar novamente e após a terceira
aceitou algum alimento. Ela sentiu-se perfeitamente
normal novamente após seis seções
de TEC, quando o tratamento foi interrompido. Seis meses
após o início do episódio, a paciente
continuava livre de sintomas.
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