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A
MEDICINA E O MÉDICO
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Paulo
F. Moraes Nicolau
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Referências Bibliográficas:
Sanvito, Wilson Luiz. A medicina tem cura? S. Paulo:
Ed. Atheneu Ltda., 1994.
Ronan, Colin A. Trad. Jorge Zahar. História ilustrada
da ciência. R. de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1987.
Melo, José Maria de Souza. A medicina e sua história.
R. de Janeiro: Ed. de Publicações Científicas,
1989.
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A
MEDICINA ARCAICA
MESOPOTÂMIA E EGITO
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Um dos oito portões
da
Babilônia de Nabucodonossor
II 575 a. C. dedicado à
divindade da fertilidade Ishtas
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O
médico na Mesopotâmia encarnava a
autoridade e o conhecimento do saber médico-empírico.
Seus honorários eram regidos por lei, como
também eram as penalidades caso algum tratamento
causasse morte ou danos ao paciente.
As doenças na Mesopotâmia eram tratadas
com drogas, fumigação, banhos medicinais,
água fria ou quente. Os médicos
reconheciam doenças nos olhos e ouvidos,
reumatismo, perturbações cardíacas
e doenças venéreas dentre outras.
A civilização vivia na crença
de que o fígado era o centro da vida e
onde ficava a alma.
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EGITO,
UMA OUTRA CULTURA,
UMA OUTRA CIVILIZAÇÃO |
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Os
médicos egípcios eram remunerados por
meio de presentes. Os ligados a famílias reais
ou nobres tinham assegurado também o seu sustento.
O conhecimento médico egípcio estava inscrito
nos vários papiros preservados de dinastia a
dinastia.
Para a medicina egípcia a função
vital estava na respiração e na circulação
do sangue. O corpo humano seria formado por um sistema
de dutos para o transporte de ar, do sangue, dos alimentos
e esperma.
As doenças eram, portanto, uma obstrução
ou inundação na circulação
normal.
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A
MEDICINA GREGA |
Jarro cretense 2º
milênio a C. |
Os
gregos utilizaram a matemática egípcia
e a astronomia babilônica para fundamentar
a filosofia e a lógica da medicina grega.
Os médicos guerreiros conheciam ossos ,
juntas, músculos e tendões do corpo.
Sabiam quais eram os ferimentos mortais e os efeitos
terríveis dos ferimentos com espada de
ferro.
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Os
médicos filósofos foram os pioneiros da
medicina racional. Tales de Mileto, Empédocles
de Agrigentum, Anaxágoras e Anaxímenes
foram alguns dos mais famosos médicos-filósofos
gregos.
Hipócrates escreveu o primeiro tratado sobre
climatologia médica, Ares, águas e lugares,
acerca dos efeitos do clima e do meio ambiente sobre
as condições médicas, a difusão
das epidemias preocupando-se com a natureza da água
e do alimento e com a natureza das próprias pessoas.
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Hipócrates
incutiu uma visão científica e usou métodos
em uma área dominada pela magia e pela superstição.
Seus julgamentos eram cuidadosos e moderados.
A Hipócrates são atribuídos 72
textos, 42 histórias clínicas que aumentaram
a soma de conhecimentos médicos de então.
Ele concebia a doença como um processo natural
nascido de causas naturais. A saúde resultava
da harmonia e da simpatia mútua de todos os humores
do homem.
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Dos
livros da coleção “Corpus
Hipocraticum”, o mais popular foi a coletânea
de aforismos:
“A
vida é breve, a arte, longa, a oportunidade,
fugaz,
a experiência, traiçoeira, o julgamento
difícil”.
“O
médico deve estar pronto não somente para
executar sua missão,
mas também para se assegurar da cooperação
do paciente, dos
atendentes e dos acompanhantes”.
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A
MEDICINA ROMANA
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Detalhe de uma urna
etrusca que representa Aquiles socorrendo homem
ferido
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Asclepíades
foi o primeiro médico na Roma imperial
a acalmar os insanos com gentileza, luz solar
e música. Reconheceu os efeitos psíquicos
da pneumonia e da pleurisia e definiu claramente
condições como frenesi, letargia
e catalepsia.
Ninguém teve tanto reconhecimento quanto
à prática médica, na Roma
Imperial, do que o jovem Galeno, que percebeu
a ação do cérebro sobre todas
as manifestações físicas
dos doentes romanos.
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A
MEDICINA BIZANTINA
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Um médico-escriba
num
mosteiro da Capadócia.
Pintura de Hans Guggenheim |
A
Igreja controlava oficialmente a prática
médica em Bizâncio. Fervilhavam os
feiticeiros e todo um mercado de amuletos, feitiços
e encantamentos. Era uma sociedade que não
acreditava nem em droga nem no estudo do enfermo,
onde havia portanto, poucas oportunidades para
o médico
Alexandre de Trália foi um médico
bizantino de rara independência. Profissional
de muita experiência, para a hemoptise ele
sugeria repouso e porções de vinagre.
O último dos grandes médicos bizantinos
foi o obstetra Paulo de Égina, que mencionou
as ligaduras e descreveu os pólipos nasais
e amídalas.
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A
MEDICINA ÁRABE |

A ascensão
de Maomé –
representação persa do
século XVI. |
Os
curandeiros eram em número elevado, usando
as mesmas artimanhas que iriam persistir ao lado
da Medicina européia durante séculos.
Um dos estratagemas favoritos era contratar cúmplices
que posavam como pacientes e circulavam louvando
as curas miraculosas de um charlatão.
As escolas Árabes introduziram na Medicina
um grande número de drogas, herbáceas
e químicas, e desenvolveram também
a arte da farmácia.
Os árabes fizeram progressos rápidos
em ciência, desenvolvendo novos métodos
no tratamento de doenças seguindo linhas
farmacológicas de modo tal que sua terapia
era considerada superior à dos gregos e
hindus.
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A
MEDICINA MEDIEVAL |

Parábola do
Bom Sama-
ritano do Livro do
Evangelho do Impera-
dor Otto III – final do séc. X
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Durante
os primeiros séculos da Idade Média
constituíram-se os reinos bárbaros
dos celtas, godos, vândalos e francos, todos
partilhando traços comuns como um vínculo
radical entre membros da mesma família,
o hábito de tomar decisões tribais
através de assembléias de cidadãos
e a poderosa instituição dos domínios.
A expansão das escolas médicas e
a ascensão de poderosas associações
médicas elevaram muito a situação
social e financeira dos médicos. Os que
exerciam a prática privada possuíam
terras, casas finas e às vezes coleções
de arte.
A maior contribuição das cidades
medievais para a Medicina e a saúde pública
foram seus hospitais, muitos dos quais sobrevivem
nas grandes cidades. Os hospitais floresceram
nos impérios bizantino e muçulmano,
mas somente quando o Papa Inocêncio III
interessou-se pessoalmente, fundando um hospital
em Roma, no século XIII, é
que o movimento expandiu-se por toda Europa cristã.
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A
MEDICINA
RENASCENTISTA
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Paracelso,pintado por
Jan van Scorel. |
Uma
grande força que revolucionou a vida do
homem e seu pensamento durante o Renascimento
foi a invenção da imprensa, que
transferiu a literatura dos mosteiros para os
lares e universidades.
Entre os médicos humanistas, a grande maioria
lutava arduamente para desligar o ensino médico
dos imprecisos textos árabes.
A invenção das armas de fogo e dos
canhões durante o renascimento tornou as
guerras mais sangrentas e os ferimentos mais mutiladores
o que estimulou o crescimento da cirurgia na doutrina
médica renascentista.
A arte de curar, segundo Paracelso, fundamentava-se
na Filosofia, na Astronomia, na alquimia e na
virtude. A nosologia paracelsiana encarava as
doenças como entidades reais.
A sífilis faria sua dramática entrada
no cenário renascentista em 1493. Em poucas
décadas, a natureza sexual da “doença
do amor” seria reconhecida. E todos, médicos,
religiosos e curandeiros, fariam de tudo para
controlá-la.
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A
MEDICINA BARROCA |

A Criança Doente
– 1660 – de Gabriel Metsu
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O
pensamento médico no período barroco
seguiu as mesmas tendências que caracterizaram
esta era: enquanto o galenismo ainda guiava a
maioria dos ensinamentos universitários,
muitos indivíduos revoltavam-se contra
o escolaticismo e inflamavam-se com o desejo de
penetrar nos segredos da natureza.
O mais brilhante astro da medicina barroca foi
William Harvey, cujo trabalho sobre circulação
sanguínea foi um grande marco na Medicina.
A maior figura da cirurgia clínica, Thomas
Sydenham (1624-1689) conduziu a Medicina de volta
aos princípios de Hipócrates. Sua
simples e sensata teoria era que a causa de todas
as doenças residia na natureza e que a
natureza possuía um instinto para curar
a si mesma. Sua terapia consistia em dieta, purgativo,
discretas sangrias. Deixou descrições
lúcidas sobre a varíola, malária,
pneumonia, escarlatina, doença de São
Guido, histeria e um relato notável sobre
a gota, da qual sofria. Classificou as doenças
como agudas (causadas por Deus) e crônicas
(causadas pelo próprio homem). Foi um dos
pais da Epidemiologia.
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A
MEDICINA ILUMINISTA
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Caricatura sobre
a impotência
dos médicos diante de doenças
graves “A Consulta” – 1808
– Thomas Rowlandson
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Esta
foi a era que divinizou a ciência, buscando
reduzir todos os processos intelectuais e morais
a preciosos princípios newtonianos de matéria,
movimento, espaço, tempo e força.
Homens talentosos descobriram dados básicos
em Química e Física, que indiretamente
beneficiaram o progresso da Medicina.
Neste século nasceu a tendência para
a especialização: a Cardiologia
teve origem na obra de Antonio Giuseppe Testa
(1764-1814); na Alemanha, o poeta Paul Gottlieb
Werlhof (1699-1767) lançou as bases da
Hematologia com a descrição da púrpura
hemorrágica.
O século XVIII não introduziu nenhum
método revolucionário de terapia;
continuaram em moda a sangria, a aplicação
de ventosas, a purgação e a dieta;
as doenças venéreas, desenfreadas
numa época de libertinagem, eram ainda
tratadas com doses maciças de mercúrio,
flebotomia e banhos.
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A
MEDICINA DO SÉCULO XIX
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Xilogravura em cores
– 1803 – James West fazendo sarcástico
comentário sobre o aumento dos negócios
dos médicos durante uma epidemia.
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O
século XIX produziu mudanças mais
radicais na estrutura da sociedade humana do que
os mil anos anteriores. O mais revolucionário
pensador do século foi Charles Robert Darwin,
cuja teoria da origem das espécies, dividiu
o mundo vitoriano, desencadeando décadas
de debates entre cientistas e entre os naturalistas
e o clero.
O legado mais interessante do século XIX
foi o trabalho do francês Marie-François
Xavier Bichat (1771-1802). Ele desenvolveu a idéia
de que o corpo vivo não era apenas uma
associação de órgãos
que podiam ser estudados em separado, mas uma
intrincada rede de “membranas” ou
tecidos. Para ele o tecido era uma unidade fisiológica
e morfológica da criatura viva, independentemente
do órgão do qual era derivado. Esse
ensinamento levou à teoria celular de Virchow,
algumas décadas depois. A ambição
de Bichat, frustrada por morte prematura, era
transformar a Medicina numa ciência exata
baseada na Anatomia e na Patologia.
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A
teoria microbial da doença, o maior presente
do século à Medicina, veio de um cientista
que não era médico, chamado Louis Pasteur
(1822-1895). Em seu precário laboratório
mal iluminado, Pasteur fez sua histórica contribuição
à Imunologia, com vacinas de vírus contra
a cólera nas galinhas, o carbúnculo nos
porcos e a raiva. Ele observou os efeitos do Penicillium
glaucum em fermentos e demonstrou que as bactérias
podiam ser usadas umas contra as outras.
Robert Koch (1845-1910) descobre o bacilo da tuberculose
e relata que a peste bubônica é quase sempre
transmitida pela pulga do rato.
A Medicina passou a depender em grande parte da ciência.
O laboratório assumiu papel dominante nos problemas
de doença e morte mudando a imagem do médico
do século XIX que não era mais um homem
com poderes miraculosos mas sim alguém que compartilhava
da tendência positivista da época, reconhecendo
apenas as conclusões que se baseavam em fatos
objetivos.
A corrente que conduziu a Medicina aos caminhos do diagnóstico
clínico-laboratorial e à especialização
despontou no fim do século.
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