Todos
nós ocasionalmente experimentamos sensações
de tristeza ou “melancolia”. Essas emoções
são parte normal da vida, como, por exemplo,
a mágoa que sentimos após a perda de um ente
querido. Entretanto, quando as sensações de
infelicidade tornam-se constantes e começam
a interferir nas funções corporais das pessoas,
estamos falando sobre uma doença chamada depressão.
É provável que esteja lendo esta matéria
porque você ou um membro de sua família foi
diagnosticado como portador de depressão.
Possivelmente você suspeita que um membro
de sua família está deprimido e deseja saber
o que pode fazer para ajudar. Se assim for,
está no caminho certo. Aprender tudo que
pode sobre depressão e seus tratamentos disponíveis
é uma das melhores formas de ajudar alguém
a quem você muito estima (ou você mesmo) a
entrar no caminho da recuperação.
Os
transtornos depressivos podem causar imenso
sofrimento, não somente à pessoa que está
deprimida, mas também àquelas que estão mais
próximas dela. Se não for tratada, a depressão
pode provocar um grande abalo na vida familiar.
Felizmente, a depressão costuma responder
bem ao tratamento, e realmente existem tratamentos
eficazes. Este libreto lhe dá uma visão geral
resumida dos sinais, sintomas e causas da
depressão e fala sobre as várias opções de
tratamento hoje disponíveis. Também examinaremos
as formas através das quais famílias inteiras
podem ter uma participação ativa em apoio
a parentes com depressão, ajudando-os a obter
o máximo do seu programa de tratamento. Lembre-se,
o primeiro passo é entender a doença.
DEFININDO
A DEPRESSÃO
Quando
usamos o termo depressão, estamos falando
de uma condição médica comum, com sintomas
muito específicos. Esses sintomas têm uma
intensidade e duração significantes e podem
afetar as funções e o bem-estar de uma pessoa,
de várias formas. Esse tipo de depressão requer
tratamento, uma vez que pode prejudicar seriamente
a capacidade de uma pessoa desempenhar as
atividades inerentes a uma vida normal, no
trabalho, e em seus relacionamentos. A depressão
pode afetar, de inúmeras formas, o nível de
humor, a perspectiva de vida, o comportamento
e as funções físicas de uma pessoa. O estado
de humor de uma pessoa deprimida é quase sempre
de tristeza ou de angústia, e a irritabilidade
é comum. Sentimento de ansiedade ou uma sensação
de medo de que algo de terrível está para
acontecer, com freqüência acompanha os sintomas
da depressão.
O
pensamento depressivo geralmente está muitas
vezes associado a uma baixa auto-estima e
pode tomar a forma de idéias negativas sobre
si mesmo e o seu futuro. Numa depressão severa,
sentimentos de inutilidade e desesperança
podem debilitar a pessoa deprimida, a qual
pode começar achar que não vale a pena viver.
Em um caso como este, o suicídio pode ser
um perigo real. (Sempre leve a conversa de
suicídio a sério, pois pode ser a forma de
uma pessoa deprimida pedir socorro antes de
levar adiante uma tentativa de suicídio).
Como
é possível saber se alguém está com depressão?
O
primeiro sinal geralmente é uma alteração
no comportamento usual da pessoa. Por exemplo,
uma pessoa anteriormente alegre e sociável
pode tornar-se irritável e retraída. Ela pode
perder o interesse nas atividades que antes
eram apreciadas ou pode começar a ter problemas
com o sono ou apetite.
Considerando
que cada pessoa é um ser individual, os sinais
de depressão podem variar enormemente de pessoa
para pessoa. Entretanto, alguns dos sinais
observados com maior freqüência estão relacionados
no quadro abaixo:
SINAIS
COMUNS DE DEPRESSÃO
-
Humor
deprimido
-
Perda
de interesse em atividades anteriormente
prazerosas
-
Insatisfação
com a vida
-
Afastamento
das atividades sociais
-
Perda
de energia
-
Perda
de interesse sexual
-
Sensação
de desamparo ou desesperança
-
Irritabilidade
-
Grande
preocupação com problemas de saúde
-
Tristeza
e choro
-
Preocupação
e/ou autocrítica
-
Dificuldade
em concentrar-se e/ou tomar decisões
-
Insônia
-
Perda
de apetite e de peso (ou, menos comumente,
sono mais prolongado e ganho de peso corporal).
-
Abuso
de substância prejudiciais
Quando
suspeitar que alguém que você estima (ou você
mesmo) está deprimido, é importante falar
com um profissional de saúde. Seu médico pode
ser a primeira pessoa a oferecer sugestões,
apoio e informações sobre opções de tratamento
eficaz. Mais adiante, neste libreto, falaremos
sobre o que fazer quando um familiar deprimido
estiver relutante em aceitar ajuda profissional.
QUEM
É AFETADO PELA DEPRESSÃO?
Depressão
é um transtorno muito comum em nossa sociedade,
afetando cerca de 5% da população em um dado
momento. Pesquisadores estimam que aproximadamente
10% dos americanos sofrerão um episódio depressivo
maior em algum período de suas vidas. Alguns
calculam que essa incidência seja da ordem
de 25%, especialmente na população feminina.
As pessoas que já tiveram uma crise depressiva
têm maior tendência a desenvolver um outro
episódio do que aquelas que não passaram por
essa experiência. As pessoas propensas à depressão
podem ter uma média de cinco episódios em
toda a sua vida. Felizmente, os estudos mostram
que tratamento precoce pode reduzir a severidade
e a duração dos episódios depressivos para
a maioria das pessoas.
A
depressão afeta pessoas de ambos os sexos,
de todas as raças, idades e posição social.
Existe evidência, entretanto, de que certos
grupos de pessoas podem ser mais vulneráveis
à depressão do que outros. Antes dos 65 anos
de idade, mais mulheres do que homens são
diagnosticadas com depressão, mas após essa
idade, tanto homens como mulheres parecem
ser afetados igualmente. Crianças e adolescentes
também podem tornar-se deprimidos, e adolescentes
podem ser especialmente suscetíveis. Até recentemente,
muitas pessoas tendiam em não admitir sinais
de depressão em adolescentes, acreditando
que os mesmos eram parte normal da problemática
da adolescência ou ‘simplesmente uma fase’
que os jovens logo superariam.
Hoje,
os especialistas reconhecem que os adolescentes
são tão vulneráveis a transtornos depressivos
quanto os adultos e talvez até mesmo com risco
maior de suicídio. De fato, nos últimos 30
anos, o índice de suicídio triplicou entre
os jovens - uma tendência trágica e alarmante.
Os especialistas acreditam agora que muitas
pessoas com propensão à depressão experimentam
seu primeiro episódio entre 15 e 19 anos.
Os sintomas da depressão em um adolescente
são freqüentemente similares àqueles observados
em adultos, mas podem também incluir, raiva,
comportamento agressivo, uma baixa no desempenho
escolar e outras formas de ‘manifestação’.
O
QUE CAUSA DEPRESSÃO?
Não
existem respostas fáceis para essa pergunta,
porque a depressão é quase sempre causada
por uma combinação de fatores complexos. Ela
pode ser desencadeada por um acontecimento
preocupante na vida, tal como a perda de um
emprego ou de um relacionamento importante.
Mas, o que faz com que algumas pessoas se
tornem deprimidas em resposta a eventos externos?
Pesquisadores sugeriram inúmeros fatores possíveis.
O
papel da genética
Parece
existir um componente “hereditário” em muitos
casos de depressão. Em outras palavras, se
outros parentes mais próximos forem propensos
à depressão, a sua tendência em ter a doença
será maior. Por exemplo, se um gêmeo idêntico
tiver depressão, existe uma chance de 70%
do outro gêmeo também desenvolver depressão.
Nos filhos, pais e irmãos de uma pessoa deprimida
(incluindo gêmeos não-idênticos) a probabilidade
de desenvolvimento de depressão é de aproximadamente
15%. Nas pessoas que não têm parentes chegados
que sofrem de depressão, a probabilidade de
virem a desenvolver depressão é de apenas
2% a 3%. Parece haver verdade na idéia de
que a depressão pode “disseminar-se na família”
Fatores
Bioquímicos
Uma
nova área promissora da pesquisa está examinando
possíveis causas físicas de depressão. Muitos
especialistas acreditam agora que a depressão
pode ser causada por um desequilíbrio ou rompimento
no nível de alguns importantes elementos químicos
do cérebro chamados neurotransmissores. Apesar
de os pesquisadores não terem ainda todas
as respostas, conseguiram desenvolver inúmeras
medicações para modular os níveis de neurotransmissores
revelados como eficazes no tratamento da depressão.
Doença,
medicações e álcool
Certas
patologias e viroses foram associadas com
o risco crescente de desenvolvimento de depressão,
incluindo a gripe, hepatite e acidente vascular
cerebral, doença de Cushing e problemas de
tireóide. Além disso, a depressão pode às
vezes se manifestar sob a forma de efeitos
colaterais de quaisquer dos vários e diferentes
medicamentos de uso comum, tais como contraceptivos,
anti-hipertensivos, esteróides, pílulas para
dormir, e tranqüilizantes. O álcool é também
um fator contributivo bem conhecido.
Fatores
ligados ao próprio desenvolvimento e outros
fatores externos
Existe
alguma evidência de que as crianças que sofrem
perdas prematuras de pessoas importantes,
especialmente os pais, são mais propensas
em desenvolver depressão, mais tarde, na vida.
Dificuldade em relacionar-se, problemas de
comunicação e conflitos com familiares, colegas
de trabalho ou outros, podem também contribuir
para o isolamento, alienação e subseqüente
depressão. Dificuldades financeiras e outros
estresses impostos pela vida também podem
ter um forte impacto. Obviamente, cada caso
de depressão é um caso individual. Com freqüência,
é impossível apontar uma causa especifica.
Uma coisa importante para todos os membros
da família é que os mesmos se conscientizem
de que a depressão não é ‘falha’ de
ninguém e que ninguém (inclusive a pessoa
deprimida) deve ser culpado pela situação.
COMO
A FAMÍLIA PODE AJUDAR
A
depressão é um transtorno que afeta toda a
família. As pessoas deprimidas podem despertar
sentimentos de frustração, culpa e até mesmo
de raiva nos familiares, os quais podem guardar
ressentimento ou ter dificuldade de entender
os problemas da pessoa deprimida. Estudos
mostram que as pessoas deprimidas são mais
passíveis de experimentar sentimentos de rejeição
ou julgamentos negativos por parte de terceiros
do que as não deprimidas, e as reações negativas
de outros membros da família podem agravar
ainda mais os seus sentimentos de desesperança
e baixa auto-estima.