Décio Gilberto Natrielli Filho
Resumo
O
estudo da personalidade envolve diferentes campos da
psiquiatria e psicologia, recebendo influências
da antropologia, sociologia, filosofia e, atualmente,
mais do que nunca, da biologia e da genética.
Este trabalho tem como objetivo o estudo dos fatores
biológicos envolvidos na determinação
dos traços de personalidade e de seus distúrbios,
citando contribuições dos diversos campos
da psiquiatria, com uma ênfase no modelo dimensional
de Cloninger e col. do temperamento e caráter
e suas aplicações para o estudo do comportamento
humano.
Unitermos:
Personalidade, Neurotransmissores, Psicobiologia
Introdução
Gordon
Alport definiu a personalidade como “uma organização
dinâmica, dentro do indivíduo, daqueles
sistemas psicofísicos que determinam seus ajustamentos
únicos ao ambiente”. O termo “organização
dinâmica” enfatiza o fato de que personalidade
está constantemente se desenvolvendo e mudando,
embora, ao mesmo tempo, exista uma organização
ou sistema que une e relaciona os vários componentes
da personalidade. O termo “psicofísico”
lembra que a personalidade não é nem exclusivamente
mental nem exclusivamente neural. A organização
envolve a operação do corpo e da mente,
inextrincavelmente fundidos em uma unidade pessoal.
A palavra “determinam” deixa claro que a
personalidade é constituída por tendências
determinantes que desempenham um papel ativo no comportamento
do indivíduo: “ A personalidade é
alguma coisa e faz alguma coisa... Ela é o que
está por trás de atos específicos
e dentro do indivíduo”.
É
amplamente aceito que a personalidade se desenvolve
através da interação de disposições
hereditárias e influências ambientais.
Do ponto de vista estrutural, a maioria dos autores
concordam que a personalidade consiste de temperamento,
caráter e inteligência. Resumidamente,
o temperamento reflete as contribuições
biológicas e o caráter reflete as contribuições
culturais e sociais para a personalidade. A inteligência
influencia tanto os traços constitucional e social
e modifica as funções da personalidade
em uma totalidade. As funções básicas
da personalidade são sentir, pensar e incorporar
estes em comportamentos intencionais.
Para
Kurt Schneider, “A personalidade compreende os
sentidos, as tendências não corpóreas
e a vontade. Esses três aspectos com certa razão,
isoladamente.”. Com uma grande importância
conceitual, separa “no ser psíquico individual,
dentre inúmeras características particulares”,
três complexos de propriedades: a inteligência,
a vida dos sentimentos e impulsos corpóreos (vitais)
e a personalidade. Wang e col. complementam afirmando
que, “a partir desta visão, o indivíduo
é constituído de três partes: personalidade,
funções cognitivas e sentimentos e instintos
vitais que estão em íntimas relações
recíprocas”.
Theodore
Millon, citado por Gunderson col., declarou que a personalidade
consiste de modos de funcionamento psicológico
arraigados, difusos, resistentes e habituais que caracterizam
o estilo de um indivíduo. Nas palavras de Millon,
“dada uma continuidade no equipamento biológico
básico, e uma faixa estreita de experiências
para aprender alternativas comportamentais, a criança
desenvolve um padrão distintivo de características
que estão fortemente enraizadas, não podem
ser facilmente erradicadas e penetram em cada faceta
de seu funcionamento. Em resumo, estas características
são e essência e a soma da sua personalidade,
sua maneira automática de perceber, sentir, pensar
e comportar-se”.
Portanto,
segundo Millon, quando falamos de um padrão de
personalidade, estamos nos referindo a essas maneiras
de funcionamento intrínsecas e penetrantes que
emergem de toda a matriz de história do desenvolvimento
do indivíduo e que agora caracterizam suas percepções
e seus modos de lidar com o seu ambiente.
Nenhum
grupo demográfico está imune aos transtornos
de personalidade (TP). Estima-se que a prevalência
para estes transtornos na população geral
varie de 11 a 23 %, dependendo da severidade do comprometimento
requerido para o diagnóstico. Estes indivíduos
apresentam prejuízos a longo prazo em sua capacidade
para trabalhar e amar e tendem ser menos educados, solteiros,
toxicômanos, desempregados e apresentam dificuldades
nos relacionamentos conjugais. Ainda mais, vários
perpetradores de crimes violentos ou não, assim
como a maioria dos internos de penitenciárias,
apresentam um transtorno de personalidade.
Por
definição, um transtorno de personalidade
desenvolve-se já na infância ou na adolescência,
permanece relativamente imutável ao longo da
vida do indivíduo e constitui o seu modo habitual
de ser. O transtorno de personalidade leva a algum grau
de sofrimento (angústia, solidão, sensação
de fracasso pessoal, dificuldades nos relacionamentos);
contudo, este sofrimento pode se tornar aparente apenas
tardiamente em sua vida. Wang e col. descrevem também
que o conceito desenvolveu-se a partir da observação
de criminosos, conotando freqüentemente um caráter
pejorativo nas suas sinonímias: psicopatia, sociopatia,
personalidade dissocial ou anti-social, insanidade moral
entre outros. Sonenreich e col. propõem que “o
diagnóstico de Personalidades Patológicas
pode ter sido justificado pela necessidade de situar
condutas anormais, em geral anti-sociais, praticadas
por pessoas sem doenças qualificadas, que as
tornem incapazes de entender a natureza de seus atos
ou de controla-los”.
Em
psiquiatria, aproximadamente metade de todos os pacientes
apresentam um transtorno de personalidade, freqüentemente
em comorbidade com transtornos do Eixo I. Os fatores
de personalidade interferem com a resposta ao tratamento
de todas as síndromes do Eixo I e aumentam a
incapacitação pessoal, a morbidade e a
mortalidade destes pacientes. Transtornos de personalidade
são fatores predisponentes para vários
transtornos psiquiátricos, incluindo abuso de
substâncias, suicídio, transtornos do humor,
transtorno do controle dos impulsos, transtornos alimentares
e ansiosos.
Por
estes e vários outros motivos o estudo da personalidade,
desde sua descrição histórica até
os modelos neurobiológicos e psicológicos
atuais, tem importância na prática clínica
dos hospitais e ambulatórios. A dificuldade no
manejo dos casos que apresentam alterações
significativas do funcionamento e convívio diário,
dos pacientes em relação ao seu meio (externo
e interno), pode ser facilitado pelo conhecimento dos
diversos modelos sobre a personalidade ou dos seus transtornos
e alterações.
Este
trabalho tem como objetivo descrever principalmente
os modelos neurobiológicos (e psicobiológicos)
sobre o temperamento, caráter, motivação,
traços e definições sobre a personalidade
e contribuições da psicologia e psicanálise
para este área da psiquiatria.
O
Kaplan & Sadock´s Comprehensive Textbook of
Psychiatry (seventh edition) descreve um modelo que
engloba níveis filogenéticos hierárquicos
do aprendizado e os relaciona com o desenvolvimento
ontogenético do temperamento, caráter
e conseqüentemente da personalidade. Alguns termos
que foram traduzidos para a realização
deste trabalho merecem ser detalhados. Para as dimensões
do temperamento temos harm-avoidance, novelty seeking,
reward dependence e persistence, os quais foram traduzidos
respectivamente como: esquiva (evitar danos), exploratório
(busca de novidades), dependência por recompensa
(ou gratificação) ou dependente e persistência.
Nas dimensões do caráter temos self-directedness,
cooperativeness e self-transcendent, que foram traduzidos
respectivamente como: auto-direcionamento, cooperatividade
e auto-transcendência. Também temos que
especificar os termos proposicional e procedural, correspondentes
às palavras propositional e procedural respectivamente,
que serão utilizadas para descrever as formas
de memórias e de aprendizado para o modelo neurobiológico
do temperamento e caráter.
Evolução
Histórica do Conceito – Tipologias Humanas
ou Tipos de Personalidade
 |
A
primeira tipologia desenvolvida na história da
medicina e da psicologia foi a resultante das concepções
da escola hipocrática-galênica. Os escritos
do médico Hipócrates de Cós (cerca
de 460-377 a.C.) propunham a visão de que o corpo
humano contém quatro humores essenciais –
fleuma, bile amarela, bile negra e sangue - que eram
secretados por diferentes órgãos, possuíam
diferentes qualidades e variavam de acordo com as estações
do ano. Nesse sentido, todas as questões médicas
repousam sobre a teoria dos quatro elementos do filósofo
pré-socrático Empédocles (500-430
a.C.), a saber: água, terra, ar e fogo. O cérebro
era considerado como sendo a sede da vida e seu funcionamento
normal exigia um equilíbrio entre os humores.
Colp, cita o exemplo de que um excesso de fleuma levaria
a uma forma de demência, a bile amarela causaria
a raiva maníaca e a bile negra causaria a melancolia.
Os aspectos psicológicos mais característicos
dos quatro temperamentos são: Sangüíneo,
Fleumático ou Linfático, Colérico
ou Bilioso e Melancólico ou Atrabiliário.
Esta teria sido a primeira tentativa de explicar as
diferenças de temperamentos e personalidades,
dando início, portanto, a um incessante estudo
de classificações, tipologias e teorias,
que se prolonga até a atualidade.
Dentre
os importantes filósofos da época, Platão
(427-347 a.C.) dividia a alma em três partes:
racional, apetitiva (desejos e ganância) e espiritural-afetiva.
A loucura ocorria quando a alma apetitiva perdia a influência
sobre a alma reacional ou quando uma perturbação
divina da alma produzia um comportamento destrutivo.
Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo
de Platão, foi o primeiro a realmente descrever
os afetos de desejo, raiva, medo, coragem, inveja, alegria,
ódio e pesar.
O
conceito de transtorno de personalidade remonta ao século
XIX. Pinel (1754-1826) descreveu o quadro de manie sans
délire em 1809, cuja característica era
o prejuízo das funções afetivas,
particularmente instabilidade emocional e tendência
dissocial, sem prejuízo da função
intelectual e cognitiva. Tal concepção
também aparece nos escritos de Esquirol sobre
as monomanias afetivas e instintivas, em 1838.
Também
no final do século XIX e início do século
XX, podemos descrever uma teoria de doença mental
descrita por dois psiquiatras franceses, Benedict-Augustin
Morel (1809-1873) e Valentin Magnan (1835-1916), na
qual salienta a hereditariedade como um importante fator
no desenvolvimento das doenças mentais. Afirmavam
que a predisposição poderia ativar-se
lentamente e se transformar em uma doença pela
transmissão repetitiva de pai para filho ou por
ação de estímulos externos. Colp
cita o psiquiatra italiano Cesare Lombroso (1836-1909),
que em seus escritos O Homem Delinqüente, de 1876,
e A Mulher Criminosa, de 1893, postulava que os criminosos
representavam um fenômeno de degeneração
biológica que podia ser identificado com base
na aparência.
Em
1835, Prichard, citado por Rutter, apresentou a descrição
da “insanidade moral”, generalizando a concepção
de Pinel. Maudsley, em 1874, falou da “privação
congênita de senso moral”. O termo psicopatia
foi introduzido por Koch em 1891, este autor afirmava
que “até mesmo nos piores casos as irregularidades
não seriam equivalentes a um distúrbio
mental”, referindo-se a este último como
os casos de insanidade e idiotia. Seu conceito de “inferioridades
psicopáticas” envolvia a maioria das doenças
mentais “não-psicóticas” bem
como o que atualmente chamamos de transtorno de personalidade
ou psicopatia.
Kurt
Schneider publicou, em 1923, a monografia Personalidades
Psicopáticas, que ainda hoje é citada
como guia para a compreensão do tema. Escreveu
que “as personalidades anormais são variações
de uma faixa média que se tem em mente. Decisivo
é o critério do termo médio, não
uma norma de valor; Entre as personalidades anormais
e os estados a serem classificados como normais há
sempre transições sem limite algum”.
Das personalidades anormais distingue como personalidades
psicopáticas “aquelas que sofrem com sua
anormalidade ou que assim fazem sofrer a sociedade.
Ambas as espécies que cruzam. Cientificamente,
o único conceito essencial é o de personalidade
anormal no qual está incluído o conceito
de personalidade psicopática”. Procura
também, “em princípio”, distinguir
rigorosamente as personalidades anormais das psicoses
ciclotímicas e esquizofrênicas “que,
com boas razões, são hipoteticamente mórbidas”.
Schneider
descreveu dez tipos de personalidade: hipertímicos,
depressivos, inseguros de si (com os subtipos ansioso
e obsessivo), fanáticos, necessitados de valorização,
lábeis de humor, explosivos, frios de sentimentos,
abúlicos e astênicos. Ele acentuou que
descreveu os tipos predominantes e não as categorias
distintas; a superposição entre os vários
tipos é freqüente.
Sigmund
Freud, citado por Hall e col., foi provavelmente o primeiro
teórico a enfatizar os aspectos desenvolvimentais
da personalidade e em particular o papel decisivo dos
primeiros anos do período de bebê e da
infância como formadores da estrutura de caráter
básica da pessoa. Complementam que, para Freud,
a personalidade já estaria muito bem formada
pelo final do quinto ano de vida e que o desenvolvimento
subseqüente era praticamente só a elaboração
dessa estrutura básica. Observando seus pacientes,
chegou à conclusão de que suas explorações
mentais os levariam de volta a experiências da
infância inicial que pareciam decisivas para o
desenvolvimento de uma neurose mais tarde na vida (“A
criança é o pai do Homem.”).
Freud
diz que “as pulsões sexuais atravessam
um complicado curso de desenvolvimento e só em
seu final `o primado da zona genital´ é
atingido. Antes disso há várias `organizações
pré-genitais´da libido – pontos em
que ela pode ficar fixada e aos quais retornará,
na ocorrência de repressão subseqüente
(`regressão´)”. Conforme completa
Dalgalarrondo, para a psicanálise as “fixações”
infantis da libido e a tendência à regressão
(a estes `pontos´ de fixação) acabam
por determinar tanto os diversos tipos de neuroses,
como o perfil de personalidade do adulto. Particularmente
importante, na concepção freudiana, é
a trama estrutural inconsciente de amor, ódio
e temor de represália em relação
aos pais, o complexo de Édipo. Assim, a personalidade
do adulto forma-se pela introjeção (sobretudo
inconsciente) dos relacionamentos que se estabelecem
no interior das relações familiares, em
particular da criança pequena com os seus pais,
e desses com ela.
Conforme
escrevem Hall e col., para Carl Gustav Jung, a personalidade
total, ou a psique, consiste em vários sistemas
diferenciados mas interrelacionados.Os principais são
o ego, o inconsciente pessoal e seus complexos, e o
inconsciente coletivo e seus arquétipos, a anima
e o animus, e a sombra. Além desses sistemas
interdependentes, existem as atitudes de introversão
e extroversão e as funções do pensamento,
do sentimento, da sensação e da intuição.
Finalmente, existe o self, que é o centro de
toda a personalidade. Weiner e col. falam da fase de
1906 a 1914, em que Jung esteve fortemente envolvido
com Freud e com o movimento psicanalítico, posteriormente
renunciou à presidência da Associação
Psicanalítica Internacional. Sonenreich refere-se
à presença de Jung “na frente da
sociedade psiquiátrica e da revista de psiquiatria
nazista em 1938” como um fator negativo “
não somente pelo que o nazismo significou para
o mundo inteiro, mas também especificamente pelas
posições psiquiátricas nazistas,
pelo tratamento criminoso dado aos doentes mentais”.
Segundo
Dalgalarrondo, uma das biotipologias mais marcantes
na história da psicopatologia foi a do psiquiatra
alemão Ernest Kretschmer. Servindo-se principalmente
da ectoscopia, ou seja, da inspeção morfológica
externa, da antropometria e de outros recursos complementares,
Kretschmer começa por distinguir, no que concerne
à arquitetura corporal, três tipos fundamentais:
o leptossômico (astênico, em suas formas
extremas), o pícnico e o atlético. Melo
escreve que ao lado destes, Kretschmer veio a descrever
ainda um quarto grupo algo heterogêneo e a que
denominou tipos displásicos especiais. Neste
grupo estariam incluídos indivíduos que,
por algumas características comuns, lembrassem
determinadas síndromes endócrinas. Segundo
Melo, seriam os chamados “eunucóides de
grande crescimento”, “ os acromegalóides”,
com ou sem gigantismo e turricefalia (crânio em
torre), os obesos, virilóides, hipoplásticos,
etc.. Investigando um “ vasto material de enfermos
mentais internados”, Kretschmer pôde concluir:
1º) que há uma forte prevalência dos
tipos leptossômico e atlético entre os
doentes diagnosticados de esquizofrenia; 2º) que
há forte prevalência do tipo pícnico
entre os doentes diagnosticados de psicose maníaco-depressiva;
3º) que são freqüentes os displásicos
entre os esquizofrênicos e 4º) que são
raros os displásicos entre os maníacos-depressivos.
Melo completa que a partir daí passou a descrever,
no domínio dos caracteres anormais, fronteiriços,
as duas maneiras de ser antagônicas, a que denominou
respectivamente – esquizóide e ciclóide.
A primeira seria observada nos indivíduos de
hábito astênico, atlético e displásico,
ao passo que a segunda pertenceria especificamente aos
pícnicos. Acaba, portanto, por isolar os temperamentos
esquizotímico e ciclotímico, de cujos
traços psicológicos específicos
defluiriam, a seu ver, os sintomas clínicos da
esquizofrenia e psicose maníaco-depressiva.
Interesse
citar para este trabalho que, em relação
à inteligência, Kretschmer encontra-se
entre os que preferem abster-se de incluí-la
no grupo dos componentes disposicionais da personalidade.
Na
atualidade, encontramos diversos problemas com o sistema
categórico dos transtornos da personalidade codificados
no Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM), desde a primeira edição
publicada em 1952 até a quarta (DSM-IV) e atual
edição de 1994. Gunderson e col. comentam
que, embora o DSM tente ser ateórico, os transtornos
da personalidade do DSM-IV na verdade derivam de quatro
estruturas teóricas bastante diferentes: dinâmica,
de traço, biológica e sociológica.
Os autores completam afirmando que “o desenvolvimento
de um sistema de classificação que sintetize
as forças destes modelos continua um grande desafio
empírico e conceitual”.
Em
seu artigo de revisão, Trull propõe que
uma alternativa para estes problemas categóricos
seria através do estudo dos modelos dimensionais
de classificação (descreve o modelo de
Livesley das 18 dimensões, o modelo dos sete
fatores de Cloninger e o modelo de traços de
personalidade dos cinco fatores). Segundo o autor, os
modelos dimensionais fornecem resultados mais confiáveis,
ajudam-nos a compreender a heterogeneidade da sintomatologia,
a falta de limites bem definidos entre os diagnósticos
categóricos (do DSM-IV por exemplo), e refletem
de forma mais acurada as achados científicos
concernentes à distribuição dos
traços de personalidade e ao comportamento mal
adaptativo.
Em
uma das primeiras e mais importantes tentativas de encontrar
correlação entre os transtornos de personalidade
maiores e alterações neurofisiológicos,
Cloninger esboçou três dimensões
de personalidade independentes e hereditárias,
cada uma associada com a atividade de um neurotransmissor.
Comportamento exploratório (busca de novidade)
estava associado com baixa atividade dopaminérgica
basal; comportamento de esquiva (evitar danos) com alta
atividade serotoninérgica e comportamento de
dependência por recompensa (dependente), com baixa
atividade noradrenérgica basal. Essas tendências
foram usadas para discriminar muitos (embora não
todos) transtornos de personalidade. A persistência
tem emergido como uma quarta dimensão herdada,
com distintas correlações psicobiológicas,
e três dimensões do caráter foram
distinguidas daquelas do temperamento, conforme estudaremos
no decorrer do trabalho. Portanto, dentro da estrutura
teórica biológica para o estudo da personalidade,
o autor descreve didaticamente o modelo dimensional
dos setes fatores proposto por Cloninger e col.
Em
nosso meio, Fuentes e col. traduziram o Inventário
de Temperamento e Caráter – ITC (Temperament
and Character Inventory) para a pesquisa dos setes fatores
da personalidade. Realizaram um estudo visando um processo
de adaptação do ITC para a língua
portuguesa, considerando que o inventário foi
desenvolvido em uma cultura diversa da brasileira. Os
autores concluíram que os resultados apresentam
uma boa qualidade e confiabilidade da versão
em português. Entretanto, colocaram em dúvida
a consistência de alguns dos subfatores do caráter,
provavelmente devido às diferenças culturais
que “impõem dificuldades na doação
de conceitos universais, pois são traços
cuja determinação depende grandemente
do ambiente”. Consideram a possibilidade dos determinantes
biológicos terem menor variabilidade que os culturais,
justificando a concordância dos estudos do temperamento
realizados em diversos países.
Temperamento
O
trabalho pioneiro de Alexander Thomas e Stella Chess
deu início ao estudo moderno do temperamento
nas crianças com o New York Longitudinal Study.
Conceituaram o temperamento como componente estilístico
(“como”) do comportamento. Entretanto, os
conceitos modernos de temperamento enfatizam seus aspectos
emocionais, motivacionais e adaptativos. Especificamente
quatro traços principais foram identificados:
esquiva (evitar danos), exploratórios (busca
de novidades), dependência por recompensa (ou
gratificação) e persistência. Estes
quatro temperamentos são considerados atualmente
como dimensões independentes, geneticamente determinadas,
que ocorrem em todas as combinações fatoriais
possíveis, ao invés de se excluírem
mutuamente.
Distinção
entre Temperamento e Caráter
As
quatro dimensões do temperamento humano correspondem
intimamente àquelas observadas em outros mamíferos,
como roedores ou cachorros. Os múltiplos níveis
observados na filogênese das habilidades de aprendizado
dos animais, desde os invertebrados até o Homem,
indicam que o aprendizado apresenta múltiplos
componentes e processos que estão hierarquicamente
organizados e interagem extensivamente através
do desenvolvimento. O Quadro 1, elaborado por Cloninger
e col., apresenta um modelo hierárquico do aprendizado,
relacionando os níveis filogenético e
cognitivo.
Quadro
1. Modelo Hierárquico do Aprendizado.
|
Nível
cognitivo |
Nível
filogenético |
Idade
humana
(modal) em anos |
VII |
Inventivo
Imaginação |
Homo
sapiens |
>
34 |
VI |
Interpretação
simbólcia |
Hominídeos |
20
a 34 |
V |
Construção
formal |
Grandes
primatas |
13
a 19 |
IV |
Concreto
Lógico |
Mamíferos |
6
a 12 |
III |
Emoção
integrada |
Répteis |
2
a 5 |
II |
Associações
sensitivo-motoras |
Anfíbios
e Peixes
vertebrados |
1
a 2 |
I |
Reflexos
sensitivo-motores |
Invertebrados |
<
1 |
Especificamente,
temperamento e caráter são conceituados
com base em dois tipos de memória e aprendizado:
procedural e proposicional. O temperamento (ou o “core
emocional” da personalidade) abrange a memória
procedural, que é regulada pelo sistema córticoestriatolímbico,
primariamente as áreas corticais sensoriais,
amígdala, o caudado e o putâmen. A memória
procedural está por trás do aprendizado
associativo e envolve o processamento perceptual pré-semântico
de informação visuoespacial e de conteúdo
afetivo. O aprendizado proposicional abrange as funções
cognitivas maiores da abstração e simbolização.
Estes dois sistemas de memória e aprendizado
podem ser separados funcionamento. Por exemplo, indivíduos
com Doença de Parkinson, caracterizada por acometimento
estriatal, exibem déficits no aprendizado procedural,
mas não no proposicional. Em contraste, pacientes
com síndrome amnésica, caracterizada por
lesões no lobo temporal medial, apresentam déficits
no aprendizado proposicional mas não no procedural.
Em
outras palavras, o temperamento é definido como
tendências emocionais e de aprendizado herdadas,
as quais são a base para a aquisição
de traços de comportamento automáticos
(com conteúdo emocional), observáveis
precocemente e que são relativamente estáveis
durante o período da vida do indivíduo.
As
quatro dimensões (esquiva, exploratório,
dependente e persistente) têm se mostrado, repetidas
vezes, serem universais nas diferentes culturas, grupos
étnicos e sistemas políticos nos cinco
continentes. Resumindo, estes aspectos da personalidade
são chamados de “temperamento” porque
elas são herdados, observáveis precocemente
na infância, relativamente estáveis no
tempo, preditivos de comportamentos em adolescentes
e adultos e uniformes nas diferentes culturas. O Quadro
2, elaborado por Cloninger e col., resumo o contrastante
grupo de comportamentos que distinguem os externos das
quatro dimensões.
Quadro
2. Descrição dos comportamentos de indivíduos
com altos e baixos escores nas quadro dimensões
do temperamento.
Dimensão
do temperamento |
Variantes
com escores altos |
Variantes
com escores baixos |
Esquiva
(evitar danos) |
Pessimista
Medroso
Tímido
Fatigável |
Otimista
Audacioso
Sociável
Enérgico |
Exploratório
(busca de novidades) |
Explorador
Impulsivo
Extravagante
Irritável
Estóico |
Reservado
Deliberativo
Parcimonioso
(econômico) |
Dependência
por
recompensa |
Sentimental
Aberto
Caloroso
Afetivo |
Reservado
Distante
Frio
Independente |
Persistência |
Assíduo
Determinado
Entusiástico
Perfeccionista |
Preguiçoso
Mimado
Sem objetivos
Pragmático |
O
quadro 3 resume um modelo neurobiológico compreensivo
sobre o aprendizado em animais e que está sistematicamente
relacionado à estrutura do temperamento humano.
Os termos aplicados (e traduzidos) são utilizados
na observação e aferição
dos diversos comportamentos animais, sendo, portanto,
apenas aproximações de comportamentos
mais complexos (e do temperamento) dos humanos.
Quadro3. Sistemas cerebrais
que influenciam os padrões de estímulo
e respotas relacionados ao temperamento.
Sistema
cerebral (dimensão da personalidade relacionada) |
Principais
neuromoduladores |
Estímulo |
Resposta
comportamental |
Ativação
comportamental (exploratório) |
Dopamina |
Novidades;
SC de recompensa SC ou NSC de
alívio de monotonia ou
punição |
Atividade
exploratória; aproximação;
evitaçãoativa;
esquiva |
Inibição
comportamental esquiva |
GABA,
serotonina (rafe dorsal) |
Aversão
condicionada (SC- NSC)
pareados sinal condicionado
para punição, novidade
e frustação (por
não- recompensa) |
Formação
de sinais condicionados aversivos,
evitação passiva,
extinção |
Vinculação
social (dependência por
recompensa) |
Norepinefrina
serotonina (rafe medial) |
Recompensa
condiciona (SC-NSC pareados) |
Formação
de sinais condicionados apetitivos |
Reforço
parcial (persistência) |
Glutamato;
serotonina (rafe dorsal) |
Reforço
intermitente |
Resistência
à extinção |
Esquiva
(evitar danos)
A
esquiva, conforme define Cloninger e col.,envolve uma
tendência herdada para a inibição
do comportamento em resposta a sinais de punição
e frustração (pela ausência de recompensa).
O mesmo autor descreve que elevados índices de
esquiva são observados como medo de incertezas,
inibição social, timidez com estranhos,
rápida fatigabilidade e preocupações
pessimistas na antecipação dos problemas
(mesmo em situação que não preocupam
outras pessoas). As vantagens adaptativas seriam a cautela
e o planejamento cuidadoso quando os prejuízos
são possíveis de ocorrer. As desvantagens
ocorrem quando a possibilidade de danos e prejuízos
é improvável mas torna-se antecipada levando
uma inibição não adaptativa e ansiedade.
Pessoas
com níveis baixos desta dimensão de temperamento
são zelosas, corajosas, enérgicas, sociáveis
e otimistas, mesmo em situações que preocupam
a maioria das pessoas. A vantagem destas características
é uma confiança frente a perigos e incertezas,
levando e esforços otimistas e enérgicos
com pouco ou nenhum estresse. As desvantagens estão
relacionadas à falta de resposta ao perigo ou
um otimismo desmedido com conseqüências potencialmente
severas quando os prejuízos são prováveis
de acontecerem.
A
psicobiologia do temperamento de esquiva é complexa.
Em estudos animais, projeções serotoninérgicas
ascendentes do núcleo dorsal da rafe até
a substância negra inibem neurônios dopaminérgicos
nigroestriatais e são essenciais para a inibição
condicionada da atividade após sinais de punição
e frustração. Os benzodiazepínicos
desinibem a evitação passiva condicionada
pela inibição GABAergica de neurônios
serotoninérgicos originados no núcleo
dorsal da rafe. As células serotoninérgicas
anteriores do núcleo dorsal da rafe se misturam
com a células dopaminérgicas da área
tegmental ventral e ambos os grupos inervam as mesmas
estruturas (gânglios da base, núcleo accumbens
e amígdala), promovendo influências dopaminérgicas
e serotoninérgicas contrárias (opositoras)
sobre a modulação dos comportamentos de
aproximação e aversão. Exemplificando,
indivíduos com altos índices de esquiva
e de comportamento exploratório tendem a apresentar
conflitos de aproximação e aversão,
conforme pode ser observado nos ciclos de compulsão
alimentar e purgação em pacientes com
bulimia. Em geral, altos índices de esquiva predispõem
os indivíduos para ansiedade, depressão
e baixa auto-estima. Um tratamento antidepressivo eficiente
diminui os escores de esquiva, entretanto indivíduos
com escores elevados deste temperamento são preditivos
de pouca resposta aos antidepressivos, incluindo drogas
tricíclicas e inibidores seletivos da recaptura
de serotonina.
Nelson
e col.29, descreveram uma correlação inversa
entre os escores da dimensão do temperamento
esquiva e receptores plaquetários do tipo 5-hidroxitriptamina
2a (5-HT ).
Estudos
com Tomografia por Emissão de Pósitrons
(PET) no National Institute of Mental Health (NIMH)
com 18F-deoxiglicose (FDG), realizados em 31 adultos
voluntários (saudáveis) durante a aplicação
de tarefas simples, contínuas e de performance,
mostraram que a esquiva estava associada com aumento
da atividade no circuito anterior paralímbico,
especificamente na amígdala direita e ínsula,
no córtex orbitofrontal direito e no córtex
préfrontal medial esquerdo. Este padrão
de ativação corresponde bem às
projeções terminais serotoninérgicas
da rafe dorsal.
Exploratório
(busca de novidades)
O
temperamento exploratório reflete uma tendência
herdada para a iniciação ou ativação
de um desejo de aproximação em resposta
a novos estímulos, aproximação
para estímulos de recompensa, evitação
ativa de estímulos condicionados de punição
e habilidade para esquiva de punição não-condicionada.
Todos estes quatro comportamentos, hipoteticamente,
fazem parte de apenas um sistema herdado de aprendizado.
Podem ser observados como uma atividade exploratória
frente a novos estímulos'9, impulsividade, extravagância
frente a pistas de recompensa e evitação
ativa de frustrações. Indivíduos
com níveis elevados de temperamento exploratório
são ativos, curiosos, tornam-se facilmente entediados,
impulsivos, extravagantes e desordenados. As vantagens
neste caso seriam a exploração entusiástica
de estímulos novos e pouco familiares, com potencial
para a originalidade, descobertas e recompensas. As
desvantagens seriam um aborrecimento fácil e
freqüente, impulsividade excessiva, explosões
de ira e com relacionamentos volúveis. Pessoas
com baixos níveis de temperamento exploratório
são reservadas, deliberadas, parcimoniosas, estóicas,
reflexivas e com tolerância para a monotonia.
As
projeções dopaminérgicas mesolímbicas
e mesofrontais têm um papel crucial para a ativação
de cada aspecto do comportamento de exploração
em animais3. Por exemplo, lesões de depleção
dopaminérgica no núcleo accumbens ou do
tegumentum ventral levam à negligência
de novos estímulos ambientais e reduzem os comportamentos
espontâneo e investigatório3. Estudos com
humanos mostram que indivíduos com risco para
desenvolver a Doença de Parkinson apresentam
baixos escores pré-mórbidos para a dimensão
exploratória, mas não para as outras dimensões
da personalidade, salientando a importância da
dopamina na ativação do comportamento
prazeroso. O início e a manutenção
da hiperatividade, comer compulsivo, hedonismo sexual,
dependência ao álcool, tabagismo e outros
abusos de substâncias estão associados
com escores elevados na dimensão exploratória.
Indivíduos com altos escores também apresentam
aumento da atividade metabólica (durante a aplicação
de teste de performance contínua) no PET em regiões
do córtex do cíngulo e caudado anterior.
Também está associado à diminuição
da atividade no córtex préfrontal esquerdo,
incluindo a região préfrontal medial associada
a um aumento da atividade em indivíduos com escores
elevados na dimensão de esquiva. Estes dados
sugerem que o córtex préfrontal medial
pode ser um importante sítio no processamento
de conflitos de aproximação-evitação.
Pessoas
com altos escores nesta dimensão também
apresentam maior sensibilidade a sedativos e estimulantes.
Tornam-se facilmente sedadas com os benzodiazepínicos
e excessivamente estimuladas com anfetaminas, levando
a uma deterioração no processamento das
informações. A associação
do aumento da atividade estriatal com o temperamento
exploratório está especificamente relacionada
com as altas densidades do transportador dopaminérgico,
sugerindo portanto que esta dimensão de temperamento
envolve um aumento da recaptura de dopamina nos terminais
pré-sinápticos, conseqüentemente
necessitando de freqüentes estímulos para
manter os níveis de ativação dopaminérgicos
pós-sinápticos.
Segundo
Bardo e col.30, a monoaminooxidase tipo B (MÃO
B) está envolvida no metabolismo de vários
neurotransmissores, incluindo a dopamina. Há
uma tendência desta dimensão de temperamento
a vários comportamentos pela busca de estímulos
prazerosos, incluindo o tabagismo, o que poderia explicar
a freqüente observação de baixa atividade
plaquetária da MÃO B. O tabagismo tem
o efeito de inibir a atividade da MÃO B nas plaquetas
e cérebro.
Juckel
e col.19, estudando e dependência de intensidade
de potenciais evocados (através do processamento
cortical de diferentes intensidades de estímulos)
e traços de personalidade, observou uma correlação
positiva deste parâmetro com a dimensão
exploratória do temperamento. Entretanto, propõem
que uma forte dependência de intensidade (do componente
auditivo evocado - N1/P2) estaria relacionada a uma
baixa neurotransmissão serotoninérgica
central.
Dependência
por recompensa (dependente)
A
dependência por recompensa reflete uma tendência
herdada para a manutenção de um comportamento
em resposta a estímulos de recompensa social.
Pode ser observado como sentimentalidade, sensibilidade
social, aproximação e dependência
da aprovação de outros. Indivíduos
com escores elevados nesta dimensão de temperamento
são tenros (delicados), sensíveis, socialmente
dependentes e sociáveis. Uma das maiores vantagens
adaptativas para este caso é a sensibilidade
frente a estímulos sociais que facilitam os relacionamentos
afetivos bem como uma capacidade de cuidado genuíno
para com os outros. A desvantagem está relacionada
a uma susceptibilidade e perda de objetividade freqüentemente
encontradas em pessoas socialmente dependentes.
As
projeções noradrenérgicas, provenientes
do locus ceruleus, e serotoninérgicas, da rafe
medial, estão relacionadas ao condicionamento
por recompensa. O locus ceruleus e a rafe medial estão
no mesmo nível posterior do tronco cerebral,
e ambos os grupos de células monoaminérgicas
inervam estruturas importantes na formação
de associações pareadas, como o tálamo,
o neocórtex e o hipocampo. Estudos neuropsicológicos
mostram que o lobo temporal anterior decodifica "sinais
sociais", como por exemplo imagens faciais e gestos
sociais. Níveis elevados de dependência
por recompensa estão associados com um aumento
da atividade no tálamo, o que é consistente
com as propostas sobre a importância das projeções
serotoninérgicas para o tálamo, provenientes
da rafe medial, na modulação da comunicação
social. Também há uma associação
de hipercortisolemia em pacientes com escores elevados
deste traço de temperamento e melancolia (depressão),
o que não se observa em indivíduos não
deprimidos desta dimensão de temperamento.
Persistência
Reflete
uma tendência herdada para a manutenção
de um comportamento apesar da presença de frustração,
fadiga e reforço intermitente. Pode ser observada
como diligência, determinação, ambição
e perfeccionismo. Pessoas altamente persistentes são
trabalhadoras, perseverantes e com uma forte ambição
para atingir objetivos com tendência para intensificar
seus esforços frente a uma recompensa antecipada
e perceberem a fadiga e a frustração como
um desafio pessoal.
Altos
escores para esta dimensão do temperamento são
adaptativos quando as recompensas são intermitentes
mas as contingências permanecem estáveis.
Quando as contingências mudam rapidamente, a perseveração
se torna mal adaptiva. Indivíduos com escores
baixos são indolentes, inativos, instáveis
e erráticos; eles tendem a desistir facilmente
quando confrontados com a frustração,
raramente se empenham para realizações
maiores e manifestam pouca perseverança mesmo
em resposta a recompensas de aparecimento intermitente.
A
persistência pode ser medida objetivamente pelo
efeito de extinção de um reforço
intermitente (PREE). Este efeito significa a persistência
ou o aumento da resistência à extinção
do comportamento após um reforço (estímulo)
intermitente. Trabalhos recentes realizados em roedores
mostraram que a integridade do PREE depende de projeções
hipocampais até o núcleo accumbens. Esta
projeção glutaminérgica pode ser
considerada um "curto circuito" do sistema
de inibição para o sistema de ativação
comportamental, ou seja, converte um sinal condicionado
de punição em um sinal de recompensa antecipada.
Esta conexão provavelmente é comprometida
em humanos após lesões do córtex
orbitomedial, as quais devem ter um "efeito anti-persistência"
específico com benefícios terapêuticos
para alguns pacientes obsessivos-compulsivos severos.
A cingulotomia bilateral, que reduz somente a dimensão
relacionada à esquiva, é menos efetiva
na redução de comportamentos compulsivos
e persistentes do que a cingulotomia combinada com lesões
orbitofrontais. Blair descreve a "sociopatia adquirida"
após lesões do córtex orbitofrontal,
como conseqüência do comprometimento dos
sistemas executivos emocionais que permitem um controle
sobre os sistemas cerebrais que respondem à ameaça.
Motivação
Sobrevivência
e reprodução são os principais
instintos para todas as espécies animais, em
humanos podem ser expressas através de seus derivados
vivenciais, as emoções. Em contraste ao
limitado espectro motivacional dos instintos básicos,
as emoções apresentam um poder motivacional
independente que as fazem não somente o principal
sistema volitivo para os seres humanos, mas também
os processos da personalidade que dão significado
à existência humana4.
Os
quatro traços de temperamento: esquiva, exploratório,
dependente e persistente, com as suas respectivas emoções
primárias: medo, raiva, aproximação
e ambição, podem ser observadas precocemente
durante o desenvolvimento. Segundo Cloninger e col.4,
as pesquisas com crianças tem mostrado que durante
os primeiros meses de vida o medo e a raiva se diferenciam
da disposição para o distress (uma tendência
a se tornarem facilmente perturbados e excitados autonomicamente).
Neste período, caracterizado por mudanças
ativas na organização dos circuitos neuronais
e na densidade das sinapses, especialmente nas áreas
corticais frontal, temporal e límbica, há
o aparecimento de várias outras funções
complexas e sociais do comportamento humano. Talvez
estas novas funções estejam arranjadas
juntamente a uma organização precoce das
disposições comportamentais e emocionais
duradouras descritas neste trabalho como traços
de temperamento.
O
temperamento envolve uma disposição relativamente
pequena de emoções associadas às
necessidades básicas do indivíduo (por
exemplo segurança), assim chamadas motivações
primárias. Medo e raiva excessivos, associados
ao temperamento, monopolizam a motivação
e tomam a personalidade alterando sua percepção,
aprendizado e comportamento de uma forma tendenciosa.
Entretanto, sob condições normais, assim
que as necessidades de sobrevivência são
alcançadas, os objetivos de uma personalidade
com um desenvolvimento normal mudam para incluir não
somente a integridade do self físico, mas também
do self mental (por exemplo a auto-estima) e de várias
emoções e metas sociais (por exemplo vergonha,
orgulho e empatia). Estas são chamadas de motivações
secundárias, sociais ou de crescimento. Estas
emoções secundárias estão
intimamente e etiologicamente relacionadas ao desenvolvimento
do caráter. Especificamente, as emoções
básicas como o medo, raiva, repulsão e
excitação são transformadas em
emoções secundárias, mais complexas
e predominantemente positivas, como o amor, empatia,
compaixão e disposição. Esta transformação
ocorre através da interação de
conceitos internalizados associados ao caráter
com as emoções básicas associadas
ao temperamento. Apesar de alguns componentes básicos
do caráter se desenvolverem precocemente na vida,
como a confiança e a confidência, a completa
diferenciação self-objeto ("eu"
versus o "não-eu"), aproximadamente
entre 18 meses e 3 anos, estabelece o estágio
para o total desenvolvimento dos traços de caráter
e das emoções secundárias.
Uma
motivação anormal (desviante e imatura)
deriva de duas ou três necessidades (excessivas
e monopolizadoras) emocionais elementares associadas
a ameaças à sobrevivência e integridade
física. Em contraste, uma motivação
amadurecida se desenvolve assim que as necessidades
básicas são alcançadas e o indivíduo
se encontra livre para vivenciar numerosas motivações
secundárias que levam ao crescimento. Isto explica
a pobreza e inflexibilidade motivacional de um transtorno
de personalidade e contribui para a rica diversidade
motivacional e flexibilidade daqueles com uma personalidade
amadurecida.
Caráter
Em
contraste ao temperamento, que é principalmente
herdado, o caráter é "menos herdado"
e é moderadamente influenciado pelo aprendizado
social, pela cultura e eventos casuais da vida únicos
ao indivíduo.
Psicobiologia
O
caráter (ou o núcleo conceptual da personalidade)
abrange funções cognitivas maiores reguladas
pelo hipocampo e neocórtex (ou seja, abstração
e interpretação simbólica, lógica
analítica e indutiva). Estas funções
(também chamadas de memória proposicional)
são criticas para o processamento cognitivo das
percepções sensoriais e dos afetos regulados
pelo temperamento, levando ao desenvolvimento de conceitos
sobre o self e o mundo externo. Três traços
principais de caráter foram distinguidos: auto-direcionamento,
cooperatividade e auto-transcendência. Quando
completamente desenvolvidos, estes traços definem
uma personalidade madurab.
Auto-direcionamento
quantifica a intensidade com a qual o indivíduo
é responsável, confiável, disponível,
objetivo e auto-confidente. A característica
mais vantajosa destes indivíduos é que
eles são realistas e efetivos, ou seja, eles
são capazes de adaptarem seu comportamento de
acordo com seus objetivos, escolhidos individualmente,
baseados em uma avaliação realista dos
fatos. Indivíduos com baixos escores deste traço
são culposos, impotentes, irresponsáveis,
pouco confiáveis, reativos e incapazes de definir
e programar objetivos e metas internamente, o que é
freqüentemente desvantajoso para a pessoa.
A
importância do auto-direcionamento para a prática
clínica seria que, baixos escores para esta dimensão
do caráter, corresponderia à característica
comum de todas as categorias dos transtornos de personalidade.
A cooperatividade quantifica a intensidade com a qual
os indivíduos se consideram partes integrantes
da sociedade humana. Pessoas altamente cooperativas
são descritas como empáticas, tolerantes,
com compaixão, protetoras e cheias de princípios.
Estas características são vantajosas em
grupos de trabalho e sociais mas não para indivíduos
que preferem viver de uma maneira isolada. Baixa cooperatividade
abrange pessoas egocêntricas, intolerantes, críticas,
pouco prestadoras (inúteis), vingativas e com
comportamento oportunista, com tendência a olhar
apenas para si próprios e insensíveis
aos direitos e sentimentos alheios. Baixos escores de
cooperatividade contribuem substancialmente para o diagnóstico
de um transtorno de personalidade, principalmente quando
associado a baixos escores de auto-direcionamento.
A
auto-transcendência quantifica a intensidade com
a qual as pessoas se consideram partes integrais do
universo como um todo. Estes indivíduos são
espirituosos, despretensiosos, humildes e realizados
(satisfeitos). Estes traços são adaptativamente
vantajosos quando as pessoas são confrontadas
com o sofrimento, doenças ou morte, que são
inevitáveis com o avançar da idade. São
desvantajosos na maioria das sociedades modernas, onde
o idealismo, a modéstia e a procura por significados
através da meditação poderiam interferir
com a aquisição de riquezas e poderes.
Pessoas com baixos escores são descritas como
práticas, conscientes de si próprios,
materialistas e controladoras. Tais pessoas são
vistas como mais adaptadas às sociedades ocidentais
devido à sua objetividade racional e sucesso
materialista. Entretanto, apresentam dificuldade em
aceitar o sofrimento, a perda do controle, perdas pessoais
e materiais e a morte, o que leva a problemas de ajustamento,
principalmente com o avançar da idade. Baixos
escores desta dimensão do caráter foram
associados a pacientes com vários sintomas de
transtorno de personalidade esquizóide, o que
poderia ser útil para diferenciá-lo do
transtorno de personalidade esquizotípico, nos
quais há uma tendência para idéias
e questões sobre "percepção
extra-sensorial" e outros aspectos da auto-transcendência.
O
caráter amadurece em etapas progressivas, com
saltos de incrementos desde a infância até
o final da fase adulta. O tempo e a taxa de transição
entre os níveis de maturidade são funções
não-lineares relacionadas às configurações
prévias do temperamento, tendências culturais
sistemáticas e eventos aleatórios da vida.
O desenvolvimento dos traços de caráter
otimizam a adaptação do temperamento ao
ambiente reduzindo a discrepância entre as necessidades
emocionais do indivíduo e as pressões
sociais. No Quadro 4 resumem-se as três principais
dimensões do caráter.
No
Quadro 1, o caráter corresponde aos processos
de lógica, construção, avaliação
e invenção de símbolos abstratos,
os quais são baseados na representação
conceptual da informação e são
bem desenvolvidos somente em alguns humanos amadurecidos.
Pacientes com Doença de Parkinson diferem de
outros no temperamento (possuem baixos escores pré-mórbidos
de traço exploratório) mas não
no caráter. Estas observações clínicas
e empíricas associam o caráter a funções
corticais superiores do sistema nervoso central. No
Quadro 5, elaborado por Cloninger e col., podemos observar
as principais diferenças entre temperamento e
caráter.
Quadro 4. Descrição
dos indivíduos com altos e baixos escores nas
três dimensões do caráter
Dimensão
do Caráter |
Altas
escores |
Baixos
escores |
Auto-direcionamento |
Responsável
Disponível
Engenhoso
Disciplinado
Com auto aceitação
|
Culposo
Sem objetivos
Passivo
Indisciplinado
Desejoso |
Cooperatividade |
Tolerante
Empático
Protetor
Compassivo
Com princípios |
Intolerante
Insensível
Egoísta
Vingativo
Oportunista |
Auto-transcendência |
Imaginativo
Intuitivo
Consentido
Espitituoso
Idealista |
Convencional
Lógico
Desconfiado
Materialista
Relativista |
Quadro
5. Principais diferenças entre Temperamento (Aprendizado
associativo ou procedural) e Caráter (Aprentizado
conceptual ou proposicional).
Propriedades
Variáveis |
Temperamento |
Caráter |
Nível
de percepção |
Automático |
Intencional |
Forma
de memória |
Perceptual |
Conceptual |
Procedural |
Proposicional |
Forma
de aprendizado |
Associativo |
Conceptual |
Condicionado |
Insight |
Papel
do indivíduo sobre a atividade
mental |
Passivo |
Ativo |
Reprodutivo |
Construtivo |
Sistema
cerebral |
Sistema
límbico |
Córtex
temporal |
Striatum |
Hipocampo |
Forma
de representação mental |
Seqüências
de estímulo- resposta
variando com a
intensidade |
Redes
interativas (esquema conceptual)
variando qualitativamente na
configuração |
Componentes
etiológicos
Hereditariedade |
40
- 60 % |
15
- 40 % |
Ambiente
familiar |
0
% |
30
- 35 % |
Ambiente
(aleatório) |
40
- 60 % |
25
- 55 % |
Neurotransmissores
Os
neurotransmissores certamente apresentam um papel na
modulação dos traços de algumas
dimensões em indivíduos com transtornos
de personalidade. A serotonina, por exemplo, tem um
importante papel na agressão ou impulsividade
(apesar de não ser exclusivo da serotonina) em
pacientes com transtorno de personalidade que desenvolvem
estes comportamentos. A dopamina seria importante nos
sintomas positivos esquizotípicos relacionados
às distorções cognitivas e perceptuais
e pode também contribuir para a origem do comportamento
agressivo. A noradrenalina e a vasopressina podem também
estar envolvidas na agressão e a acetilcolina
pode influenciar uma sensibilidade ou labilidade afetiva
subjacente.
Certamente,
todas as associações descritas acima são
apenas simplificações dos resultados de
uma variedade de estudos, estes se utilizaram de diversas
metodologias e de grupos heterogêneos de indivíduos.
Serotonina
Este
é o neurotransmissor mais estudado quando se
fala da personalidade e de seus transtornos: serotonina
(5-hidroxitriptamina [5-HT]). Nos últimos 20
anos as pesquisas vem sugerindo um importante papel
para a 5-HT na agressão e impulsividade, inicialmente
com Asberg e col.36, estudando pacientes com tentativas
letais e violentas de suicídio, depois com Brown
e col.37, estes estudos repetidamente revelaram que
os níveis de serotonina estão inversamente
relacionados à agressão e/ou impulsividade.
Portanto, quanto menor a concentração
de serotonina, maior a propensão para a agressão
ou impulsividade. Um dos principais aspectos da literatura
é a consistência geral dos achados através
das diferentes amostras dos estudos e utilizando variados
métodos para a obtenção da função
serotoninérgica.
Hollander
e col.41, estudaram pacientes com transtorno de personalidade
borderline (TPB) após a administração
de m-clorofenilpiperazina (m-CPP), um agonista serotoninérgico
parcial. Observaram que a administração
de m-CPP resultou em efeitos positivos significativos
sobre os sintomas clínicos dos pacientes, sugerindo,
segundo os autores, uma disfunção serotoninérgica
no TPB. Gardner e col.42, não observaram uma
ralação entre a concentração
do ácido 5-hidróxiindolacético
no líquor e uma história de agressão
em mulheres com TPB.
Dopamina
e Noradrenalina
O
estudo da dopamina e noradrenalina nos transtornos da
personalidade não recebeu a mesma atenção
que a serotonina. Apesar dos índices destes três
neurotransmissores serem freqüentemente investigados
simultaneamente, geralmente os achados de relevância,
especialmente na população com transtornos
de personalidade, concentram-se sobre a serotonina39.
Alguns
dados clínicos sugerem uma relação
positiva e direta entre a noradrenalina e agressividade.
A primeira evidência, segundo Coccaro39, estaria
na descrição dos efeitos "anti-agressividade"
dos beta bloqueadores; a segunda estaria relacionada
à observação clínica de
que o aumento da função noradrenérgica
central está associada com agitação
e irritabilidade, particularmente em indivíduos
com transtorno de personalidade borderline; a terceira
seria a correlação positiva entre 3-metoxi-4hidroxifenilglicol
(MHPG) no líquor e uma história de agressividade
em recrutas navais. Este mesmo autor cita dois estudos
que demonstraram uma redução do MHPG liquórico
em indivíduos violentos, comparados a voluntários
saudáveis, e uma correlação inversa
entre o MHPG plasmático e uma história
de agressão em um grupo de indivíduos
com transtorno de personalidade.
Baseados
na hipótese de que os indivíduos com transtornos
de personalidade borderline e esquizotípico podem
desenvolver diferentes respostas afetivas, cognitivas
e perceptuais a estimulantes dopaminérgicos e
noradrenérgicos, Schulz e col.43, administraram
doses de anfetamina para uma série de pacientes
com transtornos de personalidade e posteriormente descreveram
suas respostas durante algumas horas. Relataram que
oito pacientes com transtorno de personalidade borderline
apresentaram uma maior sensibilidade comportamental
a anfetamina pois demonstraram um aumento do bem estar
bem como um aumento global nos escores psicopatológicos.
Observaram também que metade dos indivíduos,
comparados com nenhum dos voluntários normais,
foram rotulados como psicóticos (transientes)
durante o uso da anfetamina. Em um estudo de replicação
envolvendo 16 indivíduos, Schulz e col.44, observaram
que a piora global após a administração
de anfetaminas era típica de pacientes com uma
comorbidade de transtorno de personalidade borderline
e esquizotípica. A melhora global era típica
de sujeitos diagnosticados apenas como borderlines sem
a comorbidade do transtorno esquizotípico, o
que explicaria a inerente contradição
na qual eles eram taxados como tendo um aumento no bem
estar bem como nos escores psicopatológicos.
Estes dados sugerem que existem importantes diferenças
biológicas entre indivíduos com transtorno
de personalidade borderline como uma função
da comorbidade com o transtorno esquizotípico.
Siever
e col.34, 45, observaram que as concentrações
plasmáticas e liquóricas de ácido
homovanílico (HVA) podem ser maiores em pacientes
com transtorno de personalidade esquizotípico
do que em indivíduos saudáveis e outros
pacientes com transtornos de personalidade diferentes
respectivamente, sugerindo uma disfunção
dopaminérgica central.
Contribuições
da psicanálise e da etologia
Como
um típico sistema complexo, o temperamento pode
ser considerado hierárquico e com a possibilidade
de ser decomposto em subsistemas estáveis que
evoluíram seqüencialmente. Estudos etológicos
também sugerem que a filogênese do temperamento
se inicia com o sistema de inibição do
comportamento (esquiva ou evitar danos) em todos os
animais, depois acrescenta-se o sistema de ativação
(exploratório ou busca de novidade) em animais
mais complexos e, posteriormente, subsistemas para a
manutenção do comportamento (dependência
por recompensa) em répteis e filós subsequentes22.
Os
estudos em etologia também sugerem que o aprendizado
conceitual ou através do insight evoluiu após
o aprendizado pré-conceitual envolvido no temperamento.
A partir destas observações podemos ampliar
a teoria da personalidade para o desenvolvimento de
traços de caráter através de concepções
acerca do aprendizado conceitual.
Para
Zimerman, é fácil perceber que o padrão
de atividade do recém-nascido revela acentuadas
diferenças individuais entre os bebês,
o que pode ser observado, é evidente, quando
são irmãos. Assim, um mesmo estímulo
exterior mal pode tirar um bebê de sua "fleuma",
enquanto um outro bebê pode reagir de uma maneira
extremamente agitada; igualmente, são significativamente
muito variáveis as formas e duração
das mamadas, o funcionamento do aparelho digestivo,
o ritmo do sono ou despertar, a maneira de chorar, etc.
A fome e a dor são as sensações
corporais que mais freqüentemente provocam o pranto
do bebê, o qual se constitui em um sinal para
que a mãe ocupe-se dele.
Não
obstante isso, complementa o autor acima, "os modernos
estudos genéticos rejeitam como não sendo
científicas as hipóteses de que haja uma
transmissão hereditária de características
adquiridas de gerações anteriores, como
Lamark postulava e Freud tendia a acreditar, assim como
também descartam a noção de que
para um determinado gene corresponderia uma característica
comportamental especificamente definida. Por outro lado,
o mesmo rigor científico dessas investigações
tem demonstrado que existe, de fato, uma "predisposição
constitucional inata", porém a mesma é
passível de mudanças pelas influências
ambientais. Dizendo com outras palavras: a dimensão
da potencialidade da criança não é
totalmente preestabelecida geneticamente; antes, trata-se
de uma dimensão potencial, ou seja, os potenciais
da criança a serem desenvolvidos, dependerão,
em grande parte, da responsividade da mãe e do
ambiente" 46.
Alguns
estudos etológicos (estudo dos comportamentos
espontâneos dos animais, preferentemente em seu
habitat natural) descritos por Zimerman46, servem para
mostrar a influência recíproca e complementar
entre os fatores genéticos e os ambientais. O
fenômeno do imprinting (uma melhor tradução
para o português seria "moldagem") é
um deles: com este nome, em 1935, o etólogo austríaco
K. Lorenz, por meio de estudos com aves, observou que,
na ausência da mãe, as patas nascidas em
chocadeiras apegam-se e ficam fixadas ao primeiro objeto
móvel que encontram, e que isso se dá
durante um período particularmente sensível
que dura cerca de 36 horas. Uma vez instalada, fica
irreversível. Este fenômeno repete-se de
forma variável para cada espécie, porém
conserva a constância de que, fora do período
sensível, o imprinting não mais acontece.
Scott em 1962, citado por Paiva e col.47, dá
especial importância ao período crítico
como aquele mais propício à aprendizagem,
sendo que podemos observar nos peixes, insetos, pássaros
e mamíferos.
Zimerman46
especula que este fenômeno de imprinting encontre
uma equivalência nas primeiras sensações
corporais que acompanham a vida intra-uterina do feto
em gestação. Segundo o autor, não
são poucos os autores, psicanalistas ou não,
atuais ou antigos, que ao longo do tempo têm postulado
teorias que expressam a convicção de que
as reais condições uterinas da mãe,
notadamente a repercussão de seus estados emocionais
e físicos, encontram uma direta repercussão
no feto.
Bion,
citado por Zimcrman4'', "mesmo sem contar com os
sofisticados recursos da moderna tecnologia, vinha insistindo,
principalmente na década de 70, na sua conjetura
especulativa quanto à existência de uma
intensa vida psíquica fetal e, indo mais longe,
ele a estendia à influência quanto à
moldagem já nas células embrionárias,
dos fatores uterinos, através de uma ressonância
das flutuações dos estados físicos
da mãe. Bion afirmava, repetida e enfaticamente
que essas primitivas sensações corporais
e, de certa forma, experiências emocionais, ficavam
impressas e representadas no incipiente psiquismo do
feto, com ulteriores manifestações no
adulto, sob forma de enigmáticas e protéicas
psicossomatizações".
O
bebê nasce num estado de neotenia, isto é,
nasce prematuramente, no sentido de que apresenta, em
relação a qualquer espécie do reino
animal, uma prolongada deficiência de maturação
neurológica, motora, que o deixa em um estado
de absoluta dependência e desamparo. Em contraste
com a lentidão da maturação motora,
o desenvolvimento dos órgãos dos sentidos
na criança é relativamente precoce e rápido:
ela começa a sentir calor e frio desde o nascimento,
a ouvir a partir das primeiras semanas e a olhar por
volta do primeiro mês.
Igualmente
se impõe o registro dos estudos de Piaget, epistemólogo
suíço que estudou em profundidade o fato
de que a evolução das capacidades sensoriais,
motoras e intelectuais de uma criança podem variar
no ritmo e qualidade, porém inevitavelmente obedecem
a uma pré-determinada seqüência neurofisiológica.
Stubbe também descreve a teoria do desenvolvimento
cognitivo de Piaget, o qual estabeleceu os estágios
de desenvolvimento dos processos cognitivos em quatro
etapas: 1) Estágio sensório-motor, do
nascimento aos 2 anos; 2) Estágio pré-operacional,
de 2 a 6 anos; 3) Operações concretas,
de 6 anos até a adolescência e 4) Operações
formais ou abstratas, da adolescência até
a idade adulta.
"O
desenvolvimento atual da neurociência está
comprovando que os fatores orgânicos relativos
às sinapses neuronais e hemisférios cerebrais,
exercem uma clara e definida influência no psiquismo,
tal como pode ser observado, com alguns evidentes resultados
positivos, com o uso adequado de neurolépticos
e antidepressivos da moderna psicofarmacologia. Da mesma
forma, algumas pesquisas recentes sobre os hemisférios
cerebrais comprovam que algumas pessoas têm uma
tendência inata para o talento verbal, enquanto
outras podem ter falta dessa capacidade e serem aptas
a habilidades manuais, criatividade artística,
ou são mais propensos para descargas afetivas,
etc". Zimerman afirma que podemos incluir uma especial
capacidade inata da criança que é aquela
que consiste em uma "intuitiva" condição
de "ler" as modulações afetivas
expressadas na face e na voz da mãe.
Zimerman46
conclui que "ninguém discorda do fato de
que o bebê está a mercê de estímulos
de toda ordem - físicos e psíquicos; sensoriais
e cinestésicos, prazerosos e desprazerosos -
sendo que ele não tem condições
neurofisiológicas, e muito menos egóicas,
para distinguir se essas sensações corporais
provém de dentro ou fora dele, se deste ou daquele
órgão. Assim, a criança, nesse
transitório estado de caos, não consegue
descarregar para o mundo externo, através da
motricidade e da ação, este aumento e
tensão que acontece no seu mundo interno. Ela
o faz por meio da linguagem corporal primitiva (choro,
ricto doloroso, diarréia, vômito, esperneio,
etc.), de modo a mobilizar as pessoas que estão
à sua volta para cumprirem essa função
de aliviar e processar as necessidades e o estado de
tensão insuportável".
Nemeroff,
consagrado pesquisador no campo das ciências comportamentais
e da psiquiatria, afirma que "a distinção
artificial entre o psicodinâmico e o neurobiológico
está sendo visivelmente demolida pela crescente
evidência de que o cérebro afeta o comportamento
e o comportamento afeta o cérebro. Na verdade,
a psicanálise e a neurobiologia molecular simplesmente
não são mutuamente exclusivas, como também
estão inexoravelmente ligadas".
Discussão
Cloninger,
em seu livro "Teorias da Personalidade" pergunta:
"Até que ponto a personalidade é
influenciada por fatores biológicos, tais como
a hereditariedade? Até que ponto a personalidade
pode ser modificada pela aprendizagem? Em que medida
a infância é um período crítico
para o desenvolvimento da personalidade, e quanta mudança
pode ocorrer na idade adulta?". A autora descreve
as principais questões tratadas pelas teorias
da personalidade, as questões descritivas (das
diferenças individuais), dinâmicas (de
adaptação e ajustamento, processos cognitivos
e sociedade) e do desenvolvimento (na criança,
no adulto e as influências biológicas).
Quanto
à importância das influências biológicas
para a personalidade, a autora acima afirma que seria
sensato sugerir que sérios desvios do aparelho
biológico normal podem, às vezes, causar
tamanho dano à personalidade que passam a ser
o fator preponderante para se compreender uma determinada
pessoa. Entre esses fatores estariam as "desordens
médicas com implicações psicológicas
(por exemplo, tumores cerebrais ou desequilíbrios
hormonais)". Propõe uma solução
cartesiana afirmando que uma "teoria da personalidade
abrangente deveria discutir a questão de quantos
comportamentos desajustados são causados por
fatores biológicos e quantos se devem apenas
a um desenvolvimento psicológico aberrante".
Tem
havido um considerável grau de confirmação
das predições teóricas originalmente
descritas em 1986 com os achados empíricos sobre
a neuroanatomia, neuropsicologia, neuroquímica
e com a neurogenética. A ênfase original
na importância da neuromodulação
dopaminérgica no comportamento exploratório,
a neuromodulação serotoninérgica
da rafe dorsal na esquiva e as influências noradrenérgicas
na dependência por recompensa também tem
sido reforçadas pêlos estudos. Também,
a psicobiologia de cada sistema envolve interações
entre múltiplos genes e múltiplos sistemas
de neurotransmissores.
Herbst
e col.52, por outro lado, contestam inclusive a validade
do modelo teórico dos sete fatores e suas correlações
propostas para a genética do temperamento (principalmente
quanto aos sistemas serotoninérgico e dopaminérgico).
Em seu trabalho não encontraram nenhuma associação
significativa entre o polimorfismo do gene do receptor
dopaminérgico tipo 4 (D4) e o temperamento exploratório,
bem como do sistema serotoninérgico (região
promotora do transporte de 5-hidroxitriptamina) com
a esquiva.
A
história da genética sobre a personalidade
é um evento recente em comparação
aos estudos e descobertas em outros campos da medicina.
Os trabalhos atualmente disponíveis não
permitem um entendimento completo das influências
genéticas no desenvolvimento do psiquismo humano.
Sem dúvida, do que se observou até os
dias de hoje com gêmeos monozigóticos e
dizigóticos podemos concluir que estamos no caminho
certo. Siever e col.54, em seu trabalho sobre perspectivas
psicobiológicas nos transtornos de personalidade,
cita, além da importância dos estudos com
gêmeos, a relação familiar dos traços
de personalidade e seus transtornos. Seria no amplo
espectro de influências culturais, biológicas
e sociais55, e nas dificuldades para separarmos a personalidade
em diversas estruturas e componentes interrelacionados,
que estariam os obstáculos e limites para o desenvolvimento
de um modelo completo. Os modelos dimensionais, conforme
o dos sete fatores descrito neste trabalho, tentam fornecer
contribuições para o sistema de categorias
de classificação (como o DSM-IV), mas,
conforme descrito anteriormente, continuam sendo um
desafio empírico e conceitual.
Svrakic
e col., citados por Cloninger e col.4, formularam um
modelo quantitativo do desenvolvimento normal e patológico
das personalidades como um sistema dinâmico e
complexo que se auto organiza e é parcialmente
moldado por influências familiares e socioculturais.
O modelo permite interações não-lineares
entre componentes etiologicamente distintos da personalidade.
A personalidade, como um sistema dinâmico multidimensional.
abrange componentes operacionais elementares (traços)
organizados de forma interdependente que é crítica
para a realização de uma função
particular. Tal sistema é caracterizado por regras
particulares de operação (por exemplo,
os princípios de aprendizado associativo no temperamento
e aprendizado proposicional nas funções
do caráter). Satisfeitos os critérios
acima, resulta então uma dinâmica não-linear
que é característica de todos os sistemas
envolvendo o crescimento e o desenvolvimento na biologia,
neurociência, psicologia e sociologia. Tais sistemas
dinâmicos multidimensionais são geralmente
chamados de sistemas adaptativos complexos. As correlações
observadas entre os múltiplos traços de
personalidade podem ser usadas, por exemplo, para explicar
a organização espontânea dos tipos
de personalidades; estes tipos se desenvolvem de forma
gradual, com sucessivos períodos de estabilidade
prolongada e interrompidas por rápidas transições.
Para
os autores acima, o desenvolvimento da personalidade
é apresentado como uma caminhada numa paisagem
adaptativa, com duas ou mais montanhas (representando
altos valores adaptativos) separadas por vales (representando
baixos valores adaptativos). A aptidão é
definida como a capacidade de produzir mudanças
na personalidade. Em geral, um sistema complexo submetido
a restrições responde a estas pela otimização
da capacidade de adaptação (ou aptidão),
ou seja, por mudanças adaptativas na personalidade.
Conforme a mudança da personalidade é
motivada pela otimização da adaptação,
os indivíduos tendem a se mover com maior probabilidade
e rapidez para o lado de maior valor adaptativo (ou
seja, a montanha mais próxima). Uma vez que tenham
alcançado o pico, eles permanecem lá por
período relativamente longo pois primeiramente
teriam que decrescer seu nível de adaptação
(descer para o vale entre as colinas) para encontrar
uma com o pico mais elevado (de melhor adaptação).
Este desenvolvimento adaptativo é descrito como
moldado em "U".
Bouchard
escreve que as pessoas ajudam a criar seus próprios
ambientes, escolhendo e selecionando uma ampla gama
de estímulos e eventos conforme o seu genótipo.
Esta visão coloca o ser humano como um organismo
criativo para o qual a oportunidade de aprender e experimentar
novos ambientes amplifica os efeitos do genótipo
sobre o fenótipo.
Para
o próprio Cloninger, o modelo dos sete fatores
da personalidade fornece uma estrutura útil para
o total entendimento da psicobiologia das múltiplas
dimensões da personalidade humana. Pode também
contribuir para as categorias diagnosticas em termos
de perfis multidimensionais que são relativamente
estáveis no seu desenvolvimento, assim como fornecer
medidas quantitativas para o uso tanto em pesquisas
psicobiológicas quanto na prática clínica.
De grande significado clínico são as recentes
replicações do achado de que este modelo
da personalidade prediz as diferenças individuais
na resposta aos antidepressivos. Este achado leva a
um entendimento da personalidade para guiar a prática
clínica, informando-nos sobre a escolha de diferentes
drogas e associações juntamente com a
psicoterapia.
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