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PSIQUIATRIAGERAL.COM.BR

CONDIÇÕES DE PERSONALIDADE INDISPENSÁVEIS AO PSICOTERAPEUTA - SITUAÇÕES INTERPESSOAIS E ENVOLVIMENTO EMOCIONAL

 

PELO

Prof. Dr. Aníbal SilveiraV1979 )

Chefe de Clínica Psiquiátrica do Hospital de Juqueri, S. Paulo.

Docente-livre de Psiquiatria, Universidade de São Paulo

N.B. - Este resumo é resultante de uma aula, gravada, no dia 17 / 6 / 75, proferida pelo Prof. Aníbal Silveira. Não sofreu nenhum processo de correção, quer seja ortográfica, quer seja na elocução de textos, pelo autor. Portanto, construções que possam comprometer pontos de vista pessoais do autor, carecem de uma melhor averiguação.

 

Usamos o termo “personalidade” porque na realidade é o que se usa habitualmente como definição das funções subjetivas do indivíduo, mas também envolve uma série de elementos como a formação técnica, as condições das disposições subjetivas e principalmente os conhecimentos gerais ou elementos de ordem intelectual, necessários para quem faz psicoterapia.

 

Está claro que a primeira condição para fazer psicoterapia ou para que o psicoterapeuta possa dedicar-se a esse tipo de trabalho é a formação técnica adequada, que subentende aprendizado em condições habituais mais supervisão do trabalho realizado durante esse aprendizado, para só depois o profissional ser liberado para praticar a psicoterapia.

 

Como em geral não existe uma escola de psicoterapia entre nós, esse trabalho é feito a custa da próxima atividade do psicoterapeuta que vai corrigindo as técnicas que usa, e que muitas vezes se mostram desastrosas e desagradáveis e com o próprio tempo ele corrige essas falhas. Lembramos que é indispensável ao psiquiatra conhecer psicoterapia, não se pode considerar um psiquiatra como adequado para a profissão se não conhecer psicoterapia.

 

Em clínica, no consultório o que prevalece são pacientes com distúrbios emocionais que devem ser revistos, modificados ou pacientes que são tratados no próprio hospital quando este é aberto.

 

Mas, há condições fundamentais que não se aprendem com o curso de psicoterapia ou com a formação psicoterápica em si mesmo, são condições que dizem respeito a personalidade do indivíduo, a maneira de ser do psicoterapeuta.

 

Se em primeiro lugar está a idoneidade moral. É uma regra fundamental difícil de avaliar, não havendo nenhuma possibilidade de negar-se, digamos assim, a quem vai fazer psicoterapia, o direito de fazê-lo uma vez que basta estar qualificado como médico, como psiquiatra para poder praticar livremente a psicoterapia. Sabemos que grande parte dos clientes que vão ao psicoterapeuta, em geral sofrem conseqüências sérias porque não procuram um psicoterapeuta idôneo, isto é freqüente para corrigir os desajustamentos pessoais, às vezes, não tão graves, mas que reclamam uma reformulação, passam a ter uma virtude inteiramente inadequada em conseqüência da psicoterapia mal levada e quase sempre isto termina na destruição de um lar.

 

Na realidade muitos problemas são conseqüências de desvios de personalidade de quem faz psicoterapia, se a isto soma-se os desvios da pessoa que vai passar pela psicoterapia, vemos se amplia extraordinariamente e torna a vida difícil quando eram apenas problemas de desajustamento superficial muitas vezes.

 

Entre as condições, algumas são de ordem pessoal propriamente dita, outras são em relação a problemas intelectuais e outras são acessórias. Entre as de ordem pessoal temos:

 

A estabilidade emocional, se o psicoterapeuta não tiver suficiente estabilidade emocional só pode produzir resultados desastrosos, podemos citar aqui, aliás lembramos, que a questão de problemas superficiais ou de passagens, assim digamos assim, na vida comum e que se tornam depois problemas gravíssimos de desajustamento, decorrem quase sempre da falta de estabilidade emocional do psicoterapeuta. Cita-se um colega, psicoterapeuta que declarou em revistas, que o psicoterapeuta deve ser neurótico para poder curar os neuróticos, isto é um contra-senso, não como paradoxo, mas ao que parece foi dito como explicação a uma situação pessoal (numa festa, o psicoterapeuta fez uma série de desatinos e o jornalista lhe perguntou como ele sendo psicoterapeuta podia fazer uma cena tão desagradável, mostrando uma instabilidade emocional tão grande, ele então respondeu desse modo). Se o psicoterapeuta leva esse conceito a sério e tem uma série de dificuldades emocionais, está claro que não pode ser psicoterapeuta. Deverá passar à psicoterapia, já que esta é a única organização estabelecida com normas especiais de aprendizado. Primeiro será analisado pelo menos um ano, deverá aprender a técnica para logo fazer a supervisão, mas esta regra não está sendo obedecida e alguns psicanalistas desde o início da revisão tem pacientes para analisar e recebem a taxa normal dos pacientes e pagam ao psicoterapeuta que faz supervisão. Não é a regra estabelecida pelos institutos de psicanálise. A duração da formulação psicanalítica é de pelo menos 4 anos, após os quais, poderá então trabalhar. Ao que parece, entre nós não existe isso, pela necessidade que há de psicanalistas.

 

Portanto quem quer fazer psicoterapia deve ter estabilidade emocional. Como vamos apreciar estas condições? É necessário primeiramente uma entrevista habitual e principalmente, o uso de provas projetivas; a de Rorschach por exemplo é a que melhor mostra as condições emocionais do indivíduo e do comportamento intelectual de quem se propõe a fazer psicoterapia. Por sua vez, esta prova exige conhecimentos para ter validade, subentende a técnica de interpretação e a discussão com o candidato à psicoterapia, dos problemas que apresenta e de esclarecimento de alguns dados que o Rorschach possa fornecer (dá as condições atuais, as condições psicológicas e a maneira de ser do indivíduo, inclusive se apresenta problemas mais profundos ou mais superficiais). É indispensável esta prova prévia para que o psicoterapeuta resolva fazer consigo próprio psicoterapia. Caso contrário, fica à mercê das injunções da psicoterapia, pois sabemos que não há um diálogo entre cliente e psicoterapeuta, mas sim uma interferência direta dos problemas do examinado sobre o psicoterapeuta.

 

Outra condição é a tolerância do psicoterapeuta é freqüente que um paciente se apresente para psicoterapia com confiança absoluta do psicoterapeuta, às vezes ocorre o contrário, alguém lhe sugere que passe por este tratamento e tem certa desconfiança em relação ao psicoterapeuta. É isto que de início define o contato inicial entre paciente e psicoterapeuta, logo toma um rumo diferente, e passam a mostrar que o aceitam plenamente quando antes duvidavam, ou senão aqueles que confiavam começam a se desinteressar e a apresentar objeções à respeito daquilo que o psicoterapeuta lhe diz.

 

É necessário, pois, a tolerância para saber avaliar adequadamente essas situações, principalmente quando essas são de ordem de falta de apoio ou confiança em relação ao psicoterapeuta. Esta situação é freqüente e às vezes é como uma defesa, uma manifestação muitas vezes, que não é consciente do analisado. A inexistência de tolerância por parte do psicoterapeuta origina nele próprio uma reação e o paciente pode perceber e sentir, então desvia os resultados da psicoterapia que podia ter condições de ser muito bem executada.

 

A franqueza é outra condição necessária. Sempre de início o psicoterapeuta deve manifestar sua sinceridade, e deve avaliar com o examinando as condições que ele tem para resolver os problemas, tendo a idéia exata de quais são, primeiro no momento atual, procurar ver as origens, isto é, se são de origem profunda ou mais superficial e verificar se está em condições realmente de fazer psicoterapia.

 

Sabemos que há dificuldades que o próprio psicoterapeuta pode apresentar que, entretanto sejam toleráveis em certa margem porque não colidem com as necessidades de apoio do paciente. Entre nós, há muitos psicanalistas que têm grande dificuldade no comportamento interpessoal (por exemplo, um estrangeiro dizia que não podia vir ao Brasil porque não suportava a viagem de avião, três vezes que tentou passou mal), entretanto, é grande psicanalista de fama internacional, com grandes conquistas no campo da técnica e da teoria analítica, mas seguramente trataria pacientes que não teriam aquelas mesmas dificuldades que ele apresentava, isto então seria uma concessão que o psicoterapeuta pode fazer a si mesmo quando vai examinar o paciente. Primeiro vai se selecionar adequadamente os pacientes que ele vai tratar, ou possa tratar.

 

Se não tiver franqueza suficiente, para ver a própria situação, sem ter conhecimento exato de como é na realidade, e conhecer, portanto as dificuldades que se lhe vai propor para corrigir, não pode fazer psicoterapia.

 

Também na fase inicial deve ver se o indivíduo está progredindo ou não, nesse caso deve avaliar consigo próprio qual o andamento da psicoterapia. Se depende de condições do paciente e que podem ser corrigidas ou se provém de condições do próprio psicoterapeuta que deverá ter a franqueza de fazer ver que não há indicação exata para que ele faça psicoterapia, encaminhando-o a outro colega que não tenha essas dificuldades que ele tem.

 

A firmeza é outra condição necessária, ou seja, segurança, se não tiver uma formação rigorosa e souber que está agindo corretamente, que está aplicando as regras da psicoterapia de modo adequado, ele não saberá interpretar o andamento da psicoterapia; ou se depende de problemas dele ou do cliente, nesse caso terá de fazer uma reavaliação das situações, para ver se pode modificar em sentido adequado uma terapia que está desencaminhando do rumo habitual. Pode tentar sentir no examinando qual é a dificuldade que existe e corrigir essa atitude interpessoal a partir do examinando. Para isso, é necessário que esteja seguro de que está fazendo. Deverá dar segurança ao cliente. O que se chama de “empatia” na psicologia comum se manifesta mais claramente na psicoterapia, em que há uma inter-relação cada vez mais íntima entre paciente e psicoterapeuta. A falta de segurança assim como a falta de domínio emocional é apreendido, pelo cliente.

 

Ao que parece foi esta uma das condições que levou Freud a manter o divã. Segundo Alexander, numa comunicação informal e que parece publicada em alguns trabalhos, Freud sentia muita insegurança quando enfrentava alguns pacientes diretamente, ficando ao lado ou atrás do divã, ele não estava sendo visto, examinado ou interrogado pelo olhar do paciente. Por isso quando aboliu a hipnose conservou o divã. Há, pois, psicoterapeutas que têm dificuldades frente a frente e outros como recursos de técnica colocam o paciente de lado, podendo assim ir apreciando reações fisionômicas do paciente sem ser visto.

 

De qualquer maneira a segurança se manifesta na própria maneira de levar a psicoterapia de uma sessão para outra, há uma série de incidentes que se passam fora do consultório, mas que vão repercutir na próxima sessão, isto exige segurança do que se está fazendo para ser interpretado e tomado ou como decorrência da própria psicoterapia ou como um fator que está interferindo na mesma. Estas são as condições básicas, que se tornam indispensáveis para quem vai fazer psicoterapia. Além dessas condições ligadas com o modo de ser do indivíduo, com a sua personalidade, há outras que são de ordem intelectual e entre essas está principalmente a flexibilidade.

O psicoterapeuta não pode ser rígido, terá que dar as normas iniciais ao começar o tratamento, quando combina com a psicoterapia, deve ter uma norma traçada, segura, deverá fazer com que o cliente faça a prova de Rorschach e programará o tempo em que deve desenvolver esta psicoterapia (numero de meses), raramente menos de seis meses. Terá, portanto, a proporção do que irá fazer, mas ele não pode seguir essa norma rigidamente, deve saber variar as condições durante o tratamento e terá de ceder em alguns aspectos, podendo mudar a técnica, embora já tenha passado ao cliente o que vai fazer.

 

É claro que não vai explicar ao cliente o que irá fazer, mas sim dará noções gerais do que fará, como vai decorrer a psicoterapia.

 

A mudança de técnica pode ser feita, mas isto só é possível sem quebra da coerência, pois a coerência é outra instância que deverá estar presente no tratamento, coerente consigo mesmo. Já dissemos várias vezes que na psiquiatria infantil, uma das coisas que mais perturbam as crianças é a falta de coerência dos pais. Na psicoterapia a situação é muito comparável a esta, interfamiliar, e vemos então que quando a criança apreende no pai a falta de constância, de coerência e se julga portanto tratada com injustiça, causa-lhe péssima repercussão. Na psicoterapia acontece o mesmo, se o cliente percebe que o psiquiatra toma atitudes discordantes do que tinha dito anteriormente, se não sabe manter a segurança, apesar de mudar o rumo, dando sinal de fraqueza neste aspecto, isto pode interferir na psicoterapia e demorar inclusive o tempo de tratamento ou então ocorrer sua interrupção.

 

Dissemos que outras condições são acessórias, mas são fundamentais também. Entre essas o domínio da técnica ligado com a atividade específica do psicoterapeuta. É indispensável que a técnica seja aplicada corretamente. Isto se obtém quando se tem uma boa formação psicoterápica, assim quem se propuser a fazer uma psicoterapia deve ter uma formação completa e adequada.

 

Para saber se o paciente é suscetível do tratamento pela psicoterapia e saber qual a técnica a aplicar, é necessário que ele conheça psicologia, psicopatologia, tem que ter formação completa e correta em psiquiatria e naturalmente em psicoterapia. Essas são as condições básicas e fundamentais sem as quais o psicoterapeuta não pode ser suficiente. Muitas falhas da psicoterapia decorrem não da técnica, mas sim da falta de conhecimento de quem a aplica. Veremos depois ao falar das técnicas, que são várias e é necessário conhecê-las e que vão desde vários campos da psicologia até a psicoterapia.

 

A indicação deve ser baseada em condições pessoais ou eventuais. Um colega muito capacitado que faz psicoterapia de grupo lembrou num congresso que os psicoterapeutas de grupo, especialmente de análise de grupo, são levados a fazer grupo pelas circunstâncias do momento, é muito mais barato e difícil para o cliente, e tem possibilidades de receber mais clientes, na mesma hora. São levados a fazer grupos somente por questão pessoal e não porque a técnica deva ser de grupo, foi, pois, muito sincero. Grande parte dos que fazer grupo, é porque não tem condições de pagar psicoterapia individual.

 

Como sabem, o analista tem um número pequeno de clientes e o número de horas que dispõe são cobradas caras. De início é diariamente inclusive aos domingos, depois passa a ser sem os fins de semana e finalmente passa a ser 4-3 vezes por semana, isto na psicoterapia clássica. 15 clientes seriam muita sobrecarga porque a psicanálise exige muito trabalho, contínuo, tem que fazer reavaliação constante, portanto sobrecarga demasiado ao psicanalista e este não poderia ter ao mesmo tempo 15 analisados. Ao passo que a psicoterapia de grupo pode se fazer uma vez por semana, ou duas, e pode ter cada vez 5-10 clientes, cobrando menos ao paciente, teria maior rendimento que trabalhando individualmente na psicanálise. Realmente essa é uma das condições nem sempre muito clara, evidente que leva o psicanalista a fazer grupo.

 

Além disso, exige a seleção, que é de ordem técnica e não condiz necessariamente com a formação, mas sim com a maneira de aplicar, é a seleção da psicoterapia. É necessário conhecer todas as formas de psicoterapia, embora não vá praticar todas elas, pois algumas são incompatíveis entre si, e deve dedicar-se aquela modalidade da psicoterapia que condiga mais com a própria maneira de ser do psicoterapeuta. Por outro lado ele vai selecionar os pacientes em função desta ser adequada ou não, o modo de ser dele para psicoterapia proposta.

 

Lembramos que existe duas formas de psicoterapia, a menor e psicoterapia propriamente dita. Embora todas recebam o nome geral de psicoterapia devamos qualificar aquelas que envolvem um grupo maior como psicoterapia menor. Na realidade nesse trabalho, em grupo de pessoas, vai se utilizar o mesmo modo que usa para quando se faz psicoterapia individual. Assim a terapia de casal, de família, consideramos como psicoterapia menor, embora seja feita a psicoterapia em sentido comum, apesar de ser uma psicoterapia, age de um modo um pouco o diverso do que se passa na psicoterapia individual. Se fizermos psicoterapia de casal e partimos de um cônjuge ou de outro, isto é do ajustamento de um ou de outro, isto é do ajustamento de um ou de outro, e de filhos, vamos fazer uma psicoterapia mais superficial do que se fosse comum, do contrário ela ficaria como uma careação de pessoas, o que é simplesmente desastroso.

 

Por isso é importante a condição antes citada que devem acompanhar ao psicoterapeuta, e ainda em maior grau, porque há de se evitar o perigo de que duas pessoas se degladiem e se alterem, seja na sessão ou depois dela.

 

Chamamos psicoterapia menor porque envolve mais de uma pessoa, logo não há um manejamento de fatos profundos (problemas), embora o casal possa ser submetido à psicoterapia individualmente. Mas a técnica de casal já é diferente.

 

Também a psicoterapia de família é diferente, porque envolve mais pessoas e mais que a do casal, pois envolve situações dos filhos e desses para com os pais e destes para com aqueles, portanto um conjunto de circunstâncias delicadas, extremamente delicadas que exigem um teto muito especial, uma maior capacidade de improvisar situações e modifica-las, uma versatilidade muito maior do que na psicoterapia de casal.

 

Da mesma maneira e mais interessante ainda, a psicoterapia de encontro, um rumo que tomou a psicoterapia de Rogers, que à princípio era de grupo e depois se tornou de encontro. Reúne vários tipos de pessoas de várias procedências e vão discutir problemas em comum, e isto é mais sério ainda, e se preste muito para desvios tanto de comportamento da personalidade como da situação que estão submetidos a esse tipo de psicoterapia.

 

O mesmo se passa com a psicoterapia do grupo e com o psicodrama, que é mais ampla do que a de grupo.

Outra psicoterapia menor é a Hipnose. Se conhecermos bem a hipnose, poderíamos indicá-la em alguns pacientes. É uma técnica que está voltando a ser praticada com mais freqüência. É uma técnica eficiente e de específica indicação devido à rapidez com que se pode resolver o problema. Isto depende de uma orientação especial do hipniatra, como se diz atualmente. Já falamos na hipnoanálise, isto é, a fusão da pipnoterapia com a psicanálise, que pode ser praticada por um número menor de psicoterapeutas, porque requer uma formação em hipnose e psicoterapia. Portanto, exige conhecimento mais profundo do que aquele que falamos na psicoterapia comum.

 

Outras condições técnicas importantes são: a combinação prévia (após os passos citados no início para realizar a psicoterapia), seja no apressar da psicoterapia, porque neste prazo entra uma série de fatores que veremos depois mais especificamente. Mas a combinação prévia subentende que ele vai aceitar a psicoterapia, usando de franqueza e sinceridade que decorre daquela, e se está em condições de fazer a psicoterapia, o tempo previsto de sua duração, etc. Que geralmente é para meses, isto porque aquela técnica de Alexander permite em menos tempo resolver os problemas que aparecem insolúveis de outra maneira (apenas 2-3 semanas).

 

Como disse antes, a técnica de Alexander, difere da de Stekel e da de outras formas porque segue a técnica ortodoxa, aliás, o principio ortodoxo da análise: apenas aboliu o divã e se colocava em frente do paciente. Nesses casos em que aplicava a psicoterapia “abreviada” que assim a chamou depois, os problemas não eram profundos, eram atuais. Aplicava também nas chamadas neuroses atuais, de maneira que é uma psicoterapia que toca especificamente os problemas mais recentes e que tenham dado margem a reações é mais eficiente do que uma psicoterapia analítica que procura rebuscar causas na primeira infância (2 anos) e que fica remoendo em falso, meses a fio sem tocar no problema fundamental, portanto sem modificar o comportamento que se pretendia faze-lo.

 

Outra norma é a psicoterapia que deve ser baseada em associações não conscientes. É importante que o psicoterapeuta penetre nos problemas não conscientes do cliente de maneira indireta. Está claro que a queixa é direta, que o paciente manifesta seus problemas na sessão e tem a obrigação de ser franco sempre como regra fundamental, dizer tudo que lhe ocorre ainda que seja contra o psicoterapeuta ou que atinja diretamente, mas essa é a combinação prévia, porque é importante que seja verbalizado para mais tarde ser discutido e ver se pode ser resolvido (e também estudado).

 

Às vezes é necessário medicar o cliente, mas não em sentido complementar à psicoterapia ou de prolonga-la, mas noutra orientação que não colide com esta psicoterapia e que coincida mais com a tendência à linguagem epileptóide que pode interferir de modo indireto na psicoterapia. Mas esse caso deve ficar bem claro essa fase inicial do tratamento, que não e um pano quente no problema e sim que vai agir noutra área que não é aquela que leva aos problemas.

 

Outra condição fundamental é que o paciente diga tudo que lhe ocorrer no momento, mas é importante que esta exposição que ele faz não se transforme numa conversa, porque vai desorganizar completamente o processo de psicoterapia.

 

A duração de cada sessão, também é importante, e é questão de técnica. Antigamente durava uma hora, outras como a de EICHORN, levava horas ou o dia todo (técnica) se tratasse de personalidades anormais nesse caso durava o tempo integral quase. Depois passou para 50 min, porque no final deve ser feito o comentário geral, o relatório permanente de cada sessão, pois sem isto não teríamos condições de corrigir os desvios que surgiram (isto em10 ou 15 mim.) Logo mais tarde conferir se está correto, porque muitas vezes o psicoterapeuta nessas notas introduz muita condição pessoal e que no momento não foi verbalizado na sessão.

 

A técnica se baseia em associações não conscientes. O sonho é o elemento mais adequado para se entrar nas associações não conscientes, além disso, há outra condição fundamental que é manter sigilo sobre aquilo que se souber na psicoterapia, é, pois elemento indispensável não só para que o cliente se sinta seguro e fale à vontade, mas para que haja bons resultados na psicoterapia.

 

Não deve comentar nada com pessoas conhecidas, assim como não se deverá aceitar coisas ditas por outros, fora da sessão, mesmo que se trate de parentes ou amigos. Pode se tratar outro parente desde que o cliente sinta que há sigilo absoluto. Não deverá haver, pois, interferência.

 

Às vezes, comentários que se faz fora da sessão, à cerca do pacienta podem chegar a seu conhecimento, e isto é profundamente perturbador para a psicoterapia, porque o cliente perde a confiança totalmente, já que ele estabeleceu sigilo.

Outro aspecto que está ligado com a segurança da psicoterapia é não fazer interpretaçõespois esta como em qualquer terapia deve ficar com o cliente, Essa interpretação prematura, por parte do analista, e tomada como sendo uma interferência direta e o cliente intelectualiza o problema que deveria ser de ordem emocional. Dizemos que psicoterapia visa problemas emocionais, pois se ela não modifica problemas emocionais não é psicoterapia. O dar explicações que não são aceitas pelo cliente, por serem prematuras, levada essa intelectualização.

 

Stekel, em seus livros dá uma série de exemplos dessa ordem, em que pacientes desde o início diziam ser isto ou aquilo, mas que não correspondiam os problemas emocionais que os levavam ao médico, então usava uma técnica quase violenta, imediata e resolvia os problemas em duas ou três sessões, porém não com a técnica de Alexander, mas com a interpretação direta em relação ao cliente. Mas ele mostrou que aqueles clientes tinham intelectualizado os problemas e não resolvido emocionalmente. Portanto a interpretação tem que ser dada no momento oportuno e é necessário que o cliente amadureça a interpretação para que ele mesmo reavalie sua interpretação, e se espera que ele próprio encontre a resposta, a explicação de certas manifestações e especialmente do conteúdo dos sonhos.

 

Se o psicoterapeuta não for formado em análise, pode utilizar os dados segundo a técnica analítica, mas sem interpretá-los. Aí é importante que apresente ao cliente os dados para que ele vá amadurecendo e chegue a interpretá-los, estes aparecem em certo momento, e geralmente aparecem quando surge um problema emocional muito intenso. A própria psicoterapia bem orientada mesmo que não seja analítica, mobiliza profundamente as reações emocionais do cliente, e nesse mo­mento numa sessão psicotarápica, em que surgem uma série de associações e de explicações que aparecem de modo quase explosivo, que por ter sido por muito tempo trabalhado a propósito de qualquer incidente menor que verbalizou ou por um aspecto especial de um sonho que ele relata, nesse caso aí a interpretação provirá do cliente à partir dos dados fornecidos pelo psicoterapeuta.

 

Outro aspecto embora básico, é acessório, é a chamada transferência. O que Freud definiu como transferência não é o que hoje se sente como tal. Transferência na linguagem comum que empregam os psicólogos e psicanalistas e uma dependência no sentido afetivo. Transferência no sentado estrito é uma dinâmica não consciente, é transferir para o analista as reações infantis ligadas com os progenitores, então é uma situação inteiramente ignorada pelo paciente, que surgiu na fase de formação, de moldagem da personalidade, nas primeiras fases da vida e que no momento da psicoterapia analítica é transferida para o psicanalista. Logo o cliente projeta sobre psicanalista aquelas reações ligadas com os progenitores, daí vem "transferência", e como diz Freud, é uma verdadeira neurose, neurose atual que decorre da análise, mas é uma reação neurótica, então é uma neurose de transferência.

 

O que se passa habitualmente nos clientes da psicoterapia é o que se passa também na clínica comum, uma dependência afetiva, não uma transferência, e que acontece como conseqüência das dificuldades emocionais e da sensação que o cliente tem de que está resolvendo em contato com o psicoterapeuta, logo isto reforça a atitude de dependência afetiva para com o terapeuta, da mesma maneira que numa situação com o clínico, como médico reforça porque sente segurança, apoio, que não é o caso psicológico, mas o problema somático e o médico está a resolve-lo.

 

O psicoterapeuta deve reconhecer essa situação para poder desmontar na sessão esse aspecto, do contrário vai deixar o indivíduo com falta de autodeterminação e vai depender a cada passo do psicoterapeuta, sendo esta outra regra a se colocar desde o início do tratamento. Não o psicoterapeuta que vai resolver nenhum problema do cliente, ele próprio é que vai buscar as soluções aos problemas e deve lhe mostrar que aquilo que ele toma como prestígio do psicoterapeuta é porque na realidade está amadurecendo emocionalmente, está podendo tomar as suas decisões sem depender de ninguém; portanto é necessário desfazer esta Ilusão logo que inicia a psicoterapia.

 

Se o terapeuta não tiver franqueza e segurança suficientes não poderá desfazer essa situação de dependência que se manifesta desde o início. O fato de não desaparecer esta dependência faz com que uma psicoterapia que tinha começado bem e ia progredindo de pronto pára, estaciona, porque faltou esta franqueza do psicoterapeuta para explicar ou esclarecer o problema particular que se manifesta como decorrência da dependência afetiva emocional.

 

Então é necessário como condição da psicoterapia que não haja envolvimento emocional, o envolvimento é quase uma decorrência da psicoterapia do paciente em relação ao psicoterapeuta, mas ela não pode tomar a direção inversa, e um pouco deferente do que Freud chamou de contra transferência os analistas logo de início acharam que da me mesma forma que há transferência dos problemas do cliente para o psicoterapeuta também exista em sentido inverso, a dependência do analista para o cliente. Contra transferência é um defeito técnico, e está bem claro nos postulados de Freud "que quando o analista manifesta contra transferência é porque não foi analisado suficientemente" não tem segurança, estabilidade emocional para evitar isto que se chamaria de início a sedução exercida pelo cliente. Freud interpretava essa sedução como uma repetição daquela sedução que a criança teria exercido em relação aos pais, o progenitor do sexo oposto, então realmente não é sedução que há no caso, embora algumas vezes tome esta aparência, mas sim uma captação afetiva. Então a captação afetiva é um defeito da técnica exatamente igual a chamada contra transferência.

 

Captação quer dizer uma subordinação afetiva, em decorrência das situações interpessoais. Isto apareceu como termo técnico nos meios jurídico legal, em que a relação mais íntima de indivíduos idosos com certas pessoas estabelece a chamada captação afetiva, isto se viu mais tarde por ex. em testamentos que foram anulados porque neles se via a "captação afetiva" (figura jurídica). Na psicoterapia também acontece essa captação afetiva, o analista se sente elogiado, etc, isto agrada ao psicoterapeuta atingindo sua vaidade e vai sendo captado por esse aspecto e muitas vezes se não tiver conhecimento de si próprio vai induzido a essa situação (contra transferência). Hoje em dia muitos analistas usam essa situação como se fosse uma técnica ou um meio para auxiliar o cliente. Mas é um defeito da técnica e ao que parece é mais uma decorrência da falta de amadurecimento emocional do analista, especialmente com o sexo oposto e é um abuso de poder emocional, pois o cliente fica a mercê do analista e muitas vezes senhoras ou moças que são analisadas acabam transtornando completamente a vida familiar devido a interferências indébitas o até certo ponto criminosas do analista em relação ao analisado.

 

Pouco menos grave e profundo que isto é a interferência das relações interpessoais. É uma regra que todo analista mantinha de modo inflexível, de que nenhum analista deve estar em contato com o analisado fora da situação analítica. Esta regra tem sofrido muitas modificações e muitos analistas pensam que deve haver esse contato interpessoal, mas isto ao que parece vem sendo uma deformação em vários níveis, em relação a psicanálise e a psicoterapia em geral.

 

Na realidade, as situações interpessoais podem ser prejudiciais, de outra maneira que não seja somente quanto ao comportamento sexual, mês sim na adoção do terapeuta do modo de ver do cliente. Muitas vezes o psicoterapeuta ao ouvir ou tomar conhecimento dos problemas do casal ou família, começa a tomar partido do cliente, isto é um tipo de relação interpessoal que nunca deve surgir na psicoterapia, isto também denota falta de amadurecimento emocional no psicoterapeuta.

 

Outras manifestações que são de ordem social, devem ser evita­das também principalmente no início da psicoterapia; entre elas o pagamento da psicoterapia de pessoas que sejam dependentes de colegas. Neste caso, o analista não cobra a taxa, mas isto pode ser prejudicial para o andamento da psicoterapia. Se o dependente tiver nessa situação um problema conjugal como expressão ou conseqüência, digamos assim de dependência monetária ou econômica, se favorecemos essa dependência não cobrando do paciente, estamos agindo de modo inadequado na psicoterapia. Portanto, mesmo que seja um dependente de colega, é 'necessário que faça um esforço pare custear a própria psicoterapia. Isto pode ser discutido mais especificamente porque não é uma regra geral. Sabemos que há clientes que progridem muito bem e resolvem seus problemas sem pagar a psicoterapia, mas então fica uma dependência econômica semelhante a do lar e isto é que deve ser estudado.

 

Deve-se levar em consideração o fato de que o psicoterapeuta deve cobrar, porque se só tiver casos "gratuitos", é insuficiente... (óbvio o comentário). Tratando-se de colega a coisa muda um pouco, porém não deve esperar que o mantenha muito tempo sem remuneração, pois há até alguns que se sentiriam ofendidos se não fosse lhes cobrar... Pelo menos uma prova psicológica, etc. pode se fazer gratuitamente sem que o colega se sinta diminuído por isso. Mas uma psicoterapia que envolva a reserva um dia ou dois por semana, cria problema para o psicoterapeuta e este não pode manter a não ser em casos excepcionais. Nesse caso cobrar a sessão psicotarápica corresponde a uma necessidade para o próprio cliente que pretende faze-la.

 

Como os psicólogos têm autorização para fazer psicoterapia, acontece o mesmo, e devem resolver com o cliente a maneira como vai se pagar.

 

Outro problema a discutir é, como terminar a psicoterapia; existe um trabalho de Freud sobre psicoterapia terminável e não terminável, estas terminam quase sempre quando o paciente abandona a psicoterapia ou quando alguma coisa interpessoal interfere, então há uma ruptura das ligações entre o terapeuta e o cliente. Mas é necessário se estabelecer desde o início essa possibilidade e nem sempre se chega a uma finalidade em fim, mas nesse caso o cliente já deve estar preparado para isto previamente, não é uma coisa que vai aparecer de repente, que não é um abandono de posição, mas que pode ser uma decorrência previsível inclusive no Inicio da psicoterapia.

 

Outras condições mais específicas:

 

 

Condições fundamentais:

Idoneidade moral

 

Pessoais:

Estabilidade emocional

Tolerância

Franqueza

Segurança, firmeza

 

Intelectuais:

Flexibilidade (mudança de tática)

Coerência, uniformidade

 

Acessórias:

Técnica

Conhecimento: Psicopatologia

Psicologia

Psiquiatria

Psicoterapia

 

Seleção;

Combinação prévia

Sigilo

Interpretação